segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

As transformações em frases complexas segundo Koch.

Segundo Koch, em seu livro Linguistica Aplicada ao Português: Sintaxe. (1983), as transformações das orações complexas se dá por meio do processo de encaixamento.  
As Transformações de Encaixamento
Primeiramente, há subordinação quando é possível encaixar uma oração dentro da outra – a matriz ou principal – sendo que a função sintática da oração encaixada será a mesma do constituinte no qual se operou a inserção. As frases encaixadas ou subordinadas podem ser de três tipos diferentes, dependendo do local de encaixamento, a saber: as completivas, encaixadas no lugar de um SN; as circunstanciais, encaixadas na posição de um SPA; e as relativas, encaixadas na posição de modificadores adjetivais do nome.
As Completivas
Como já mencionado anteriormente, as transformações das orações complexas se dá por meio de encaixamento de uma oração por um termo da oração primeira. Que termo então a ser substituído? Trata-se de formas vazias conhecidas como pró-forma. O que é uma pró-forma? Trata-se de uma forma vazia de significado, que serve para marcar a posição estrutural, o lugar onde a segunda oração deve ser inserida. Assim as completivas preenchem este espaço vazio de significado completando o sentido da oração principal exercendo as funções de sujeito (SUJ), objeto direto (OD) ou indireto (OI), complemento nominal (CN), predicativo (PRED) ou aposto (AP).
Ex: Pedro sabe {algo/alguma coisa} Sabemos que o verbo saber necessita de um complemento (quem sabe, sabe algo ou alguma coisa). Assim, a pró-forma genérica poderá ser substituída tanto por um só item lexical (matemática), como por um sintagma (escrever poesias), ou por outra oração (o professor é justo).
As Orações Completivas podem proceder ao encaixamento por intermédio de dois complementizadores: QUE, -R
O Complementizador QUE. Quando se introduz uma completiva por meio do complementizador QUE, a transformação de encaixamento obedece às seguintes etapas: a) encaixamento de O2 no lugar da pró-forma ALGO; b) acréscimo do complementizador.
Ex: Eduardo sabe que Cristina viajou.
Na O1 temos Eduardo sabe {algo} A pró-forma algo indica-nos a necessidade de uma complementação do verbo. Eduardo sabe o que? Resposta: Cristina viajar. Efetuando o encaixamento temos: Cristina viajar substituindo a pró-forma algo e o acréscimo do complementizador que no segundo sintagma nominal da O1. Finalizando com Eduardo sabe (O1) que (complementizador) Cristina viajou (O2).

O Complementizador –R. O encaixamento de uma completiva também pode ser efetuado por intermédio de um complementizador –R, obtendo-se assim uma oração reduzida de infinitivo.
Ex: Maria espera ALGO. Maria vencer as dificuldades. Forma encaixada: Maria espera vencer as dificuldades.
Ocorre, portanto: a) encaixamento de O2 no lugar da pró-forma ALGO da O1; b) acréscimo do complementizador –R (desinência modo-temporal de infinitivo, indicando que o verbo assumirá obrigatoriamente a forma infinitiva); c) apagamento do SN idêntico da completiva.

As Circunstancias
As circunstancias, também, chamadas de adverbiais pela gramática tradicional, são orações que se encaixam na posição de um SPA modificador da matriz, que à semelhança das completivas, será representado por pró-formas como: em dado momento, por uma razão, etc. Também como as orações completivas, estas poderão ser substituídas tanto por um item lexical (ex: agora), como por um sintagma (ex: na primavera) ou por uma outra oração (ex: A primavera chega).
A regra completa do SPA é:
SPA         prep + SN
                          Adv
                                O2
   
 O “modus operandi” da transformação de encaixamento, chamada de T. de circunstancialização, pode ser descrito a partir das frases:
i)                    O público deixou o recinto em certo momento. (SPA)
ii)                  O espetáculo terminar.
Teremos o encaixe da O2 no lugar do termo em certo momento da O1. A noção de tempo expressa na segunda oração poderá ser concomitante, anterior ou posterior ao fato enunciado da primeira oração, cabendo, pois, ao circunstancializador assinalar o tipo de relação temporal.
Além da circunstância de tempo, a oração circunstancial pode ainda exprimir uma serie de outras relações como: causa, conseqüência, condição, comparação, proporcionalidade, conformidade, finalidade, concessão. Tudo isso pode ser expresso no esquema:                                     O
 SN                                  SV                            SPA
Os aviões                     saíram do                  em dado momento
líbios                             Brasil                      por uma razão
                                                                                                  de certa maneira, etc



As Relativas

As orações restritivas, denominadas adjetivais na gramática tradicional, podem ser de dois tipos: as restritivas, que funcionam como sintagmas adjetivais e apresentam-se encaixadas na posição de modificador do nome, conforme a regra AS      O2, e as apositivas, que funcionam como aposto e se originam de frases coordenadas na estrutura profunda.

Relativas Restritivas. Tais orações são encaixadas na posição de um SA, representado por uma pró-forma, denominada ESPECIFICADO – que pode ser substituída tanto por um só item lexical (ex: esforçado), como por um sintagma (ex: de Julio) ou por uma oração (ex: o rapaz estuda letras).  
A regra de reescritura do SA será:
SA         ( intens )   (SPA)  Adj  (SPC)          Ex: eu comi o peixe X.
                                       O2                        O peixe estava estragado.
                                                   Eu comi o peixe [que estava estragado]

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Reflexões natalinas: “O Verdadeiro Natal”



Chega dezembro e vemos o desespero tanto dos lojistas (que vendem) e dos consumidores (que enlouquecem no frenesi das compras). Mas qual o significado do Natal? Natal é antes de tudo uma festa religiosa em que (nós religiosos) comemoramos, simbolicamente, o nascimento do menino Jesus. Logo podemos pensar que apenas aqueles que crêem no Cristo deveriam festejar (não festejamos o aniversário de quem não conhecemos). Mas o comércio tira essa imagem religiosa e faz do natal um momento de aumentar os lucros e para isso apela de tal forma, que muitas pessoas se vêm quase que coagidas a comprar um presente. Nada contra presentear. Mas quando colocamos o presente acima de tudo, esquecemos do aniversariante.


Natal é a festa pelo nascimento do Cristo. É acreditar que Jesus é o grande senhor e crendo nele podemos ter dias melhores na terra. É acreditar que no dia 25/12 uma criança nasce em nossa casa e que sua estadia dependerá unicamente de nossa vontade. Deus só faz morada em nosso meio quando a Ele damos o nosso sim.

Tentando ao máximo me afastar dos lugares-comuns, deixo como mensagem que diante da ceia farta paremos para analisar o que de fato estamos comemorando: o verdadeiro natal ou as promoções de final de ano.  

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Análise do poema A um Poeta de Olavo Bilac

No soneto A um Poeta, temos aí a metalinguagem quando o poeta utiliza-se de um poema para falar sobre o poema, ou seja, este soneto é um poema sobre o poema. Já no primeiro quarteto o poeta fala do exímio oficio de tecer o poema. O local ideal onde as ideias fluem, embora com dor e teimosia. Este é lugar é comparado ao claustro beneditino: “longe do estéril turbilhão da rua/ beneditino, escreve! No aconchego/ do claustro, na paciência e no sossego, trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua”!
No segundo quarteto apresentam-se os cuidados que se precisa ter para a criação do poema, onde o poeta admite uma forma para o poema onde não transpareça o trabalho exigido pela criação:mas que na forma se disfarce o emprego/ do esforço; e a trama viva se construa/ de tal modo, que a imagem fique nua,/ rica, mas sóbria, como um templo grego”.
O poeta chega ao primeiro terceto dando mostras do resultado do trabalho feito, destacando principalmente a beleza o que se identifica com os princípios clássicos: riqueza e sobriedade: não se mostre na fábrica o suplício/ do mestre. E natural, o objeto agrade,/ sem lembrar os andaimes do edifício:”
O fechamento do soneto é complemento do primeiro terceto. O poeta compara a arte como uma beleza pura, onde não deve haver artificialidade, pois é na simplicidade que ela se torna bela: Porque a Beleza, gêmea da verdade,/ arte pura, inimiga do artifício/ é a força e a graça na simplicidade”.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Análise do poema Antítese de Castro Alves

Símbolo da nossa literatura abolicionista, Castro Alves em seu poema Antítese, justifica o emprego do titulo pela descrição oposta, contraria entre homem branco (livre) e o negro (escravo). O poema inicia seu leito apresentando a florida vida nos bailes suntuosos. A descrição que temos é de um ambiente luxuoso e feliz: “cintila a festa nas salas! Das serpentinas de prata jorram luzes em cascata/ sobre sedas e rubis/ soa a orquestra...” A alegria é tamanha que os pares dançando parecem Silfos numa valsa mágica: “como silfos/ na valsa os pares perpassam/ sobre as flores, que se enlaçam nos tapetes de coxins”.
A partir da segunda estrofe o ambiente de Antítese ganha forma. Saindo do luxuoso espaço de festa a névoa da noite, no átrio, na vasta rua” ambienta o espaço daquele que “como um sudário flutua/ nos ombros da solidão”. Trata-se daquele que recebeu como prêmio, já no limiar das forças, o desprezo e uma carta de alforria: o escravo! O espaço por este habitado não é dos salões de festas, mas a praça como única morada: “a praça em meio se agita”. “Espécie de cão sem dono” torna-se um sujeito em que a sua condição humana torna-se degredada: “desprezado na agonia/ larva da noite sombria/ mescla de trevas e horror”.
E se a curiosidade do leitor o instiga a querer saber quem é a larva da noite sombria, na estrofe seguinte o autor descreve o ser e sua situação social: “é ele o escravo maldito/ o velho desamparado/ bem como o cedro lascado/ bem como o cedro no chão. Tem por leito de agonias/ as lájeas do pavimento/ e como único lamento/ passa rugindo o tufão”.
E na última estrofe, o poeta grita a favor do escravo: “chorai, orvalhos da noite/soluçai ventos errantes/ sede os círios do infeliz!”. E denuncia a morte-social, a morte-econômica do “cadáver insepulto”, que a própria alforria e o desprezo, a liberdade não assistida já predizia.

Análise do poema Lembrança de Morrer de Álvares de Azevedo


De autoria de um jovem poeta, a quem a morte não permitiu usufruir dos prazeres juvenis, Lembrança de Morrer traduz o extremo subjetivismo, à Byron, muito bem expresso numa temática emotiva de amor e morte. Aliás, é justamente dentro dessa temática que o poema representa a segunda fase do nosso Romantismo conhecida como Ultra-romantismo.  Desde a primeira estrofe o sentimento de melancolia vem à tona: “quando em meu peito... não derramem por mim nenhuma lágrima”. Ainda nessa estrofe percebemos a presença da linguagem de um poeta muito jovem, num inventário lexical onde o ser “foge à rotina, envisgando nos aspectos mórbidos e depressivos da existência: “pálpebra demente”” (Alfredo Bosi).  
O poema segue na cadencia angustiada do poeta. Cada estrofe exemplifica o tédio existencial do eu-lírico. Existência angustiante que somente a morte simbólica pode ser a saída: eu deixo a vida como deixa o tédio...”. e que, se a morte concretizada, apenas algumas lembranças o eu-lírico sentirá saudade, mas de todas, derramará uma lágrima nostálgica apenas “pela virgem que sonhei” expressando o amor carnal em oposição ao convencional.
É pela virgem que o eu-lírico destinou seus dias em vida: “se viveu, foi por ti! E de esperança/de na vida gozar de teus amores”. Mas esse desejo não se concretizou e por isso a morte é buscada como meio de libertação dos sofrimentos tanto que o eu-lirico descreve o seu próprio epitáfio: “descansem o meu leito solitário/ na floresta dos homens esquecida, a sombra de uma cruz, e escrevam nela: foi poeta – sonhou – e amou na vida”.
Se na estrofe acima temos o epitáfio do próprio ser que sofre e por isso deseja a si a morte, na última estrofe temos o desfecho do poema com a descrição de seu próprio túmulo numa linguagem em que a morte figura uma possibilidade de encanto: “mas quando preludia ave d’ aurora/ e quando a meia-noite o céu repousa/ arvoredos do bosque, abri os ramos.../ deixai a lua pratear-me a lousa!”  

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Análise do Poema Marabá de Gonçalves Dias

No poema Marabá de Gonçalves Dias, é possível perceber a presença marcante do Romantismo. Essa presença é logo apresentada no tema geral do poema: "amor-melancolia; amor-desespero; amor-desilusão". É em torno do embate entre Marabá e os guerreiros que se dá esse amor desiludido.
Outra caracteristica se apresenta na construção das personagem Marabá (índia mestiça) em oposição a índia verdadeiramente brasileira. Ora, é sabedor que o índio constitui elemento singular em nossa literatura romântica. Seus traços brasileiros ganharam tanta conotação que embora Marabá seja, apesar de mestiça, bonita, ainda sim é rejeitada pois não se enquadra na descrição do indigena transplantado para a nossa literatura.
outros elementos também merecem um olhar diferenciado: linguagem poética carregada de metáforas que exaltam o elemento paisagístico (brisa, beija-flor), paralelismo, jogo de palavras, presença de duas vozes (Marabá e o guerreiro) intercalando as ações: ora Marabá ressalta a sua própria beleza, ora é o guerreiro que ressalta a beleza indigena por ele preferida. E nesse vai e vem de exposição do belo, Marabá se dá conta que a sua beleza é desprestigiada naquele meio social. Um exemplo de lirismo em que a figura do elemento indigena adquire a conotação de elemento principal do nosso período romântico.

domingo, 27 de novembro de 2011

Batismo sobre as águas...

Essa foto que você vê aí é da cachoeirinha da Rocha Negra, onde, ontem aconteceu meu batismo de trilha. Foi uma pedalada muito legal. Você pode conferir mais no blog www.amazonbikeclube.blogspot.com

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Reflexões sobre a Vida II – Areia da Ampulheta.

Dia desses, ouvindo a canção do Maluco Beleza cujo nome é o mesmo do título dessa reflexão, percebi que de fato a nossa vida é areia espremida na ampulheta. A alegria em comemorar o nascimento é dicotômica (do ponto de vista do pessimista?): a morte se torna mais próxima de nós. Ou não (do ponto de vista do otimista?): alegramo-nos pela quantidade de areia que representa o tempo que já vivemos. E por falar em tempo lembro-me dos sábios versos de Jorge Cooper: “Difícil é arredar o tempo/ não correr para trás com o tempo/ estar em eternidade no tempo”. Penso que esse tempo de Cooper é a metáfora da areia da ampulheta. Areia (vida) que uma vez descida pelo labirinto da medição não se poderá mais voltar atrás. Igualmente a vida. Semelhante aquele verso de cazuza: “o tempo não para”. E assim a vida vai... e o que apenas restará de nossa existência será: a lembrança temporária dos amigos, familiares... ou a inscrição lapidar: “ foi poeta, amou... e sonhou... a (na) vida ”.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Acabocado

Aqui pelas beiradas do Tapajós temos um dito muito peculiar. Fala de uma analogia que compara a felicidade humana com a alegria do pinto imerso na lama. Felicidade tanta que faz do “caboco” um “acabocado” de sua própria conquista material. Descomplicando, o caso se trata do seu Viana, homem que nos últimos dias está se achando o senhor do mundo. Primeiro veio o Tênis. Um exemplar legítimo de um Mizuno. Algo não muito comum entre os seus. Com os pés revestidos de bom couro, andava numa elegância nunca vista. Evitava passar em locais enlameados. Agora está de posse de um celular de nome difícil: “ismartifone”. As horas que antes dividia entre o serviço da roça e o aconchego noturno com sua senhora, agora vive a teclar as minúsculas teclas de seu formidável aparelho. Sente-se o Senhor do Mundo. É... realmente este Viana parece pinto que belisca merda.


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Formação de Palavras em Português

  • Como podemos Formar Palavras em Língua Portuguesa? Basicamente, nos utilizamos de dois processos de formação lexical: a) derivação; b) composição.
A derivação constitui-se na agregação de afixos ao radical da palavra. Quando o afixo é anteposto ao radical temos o prefixo. Já quando ele é posposto ao radical temos o sufixo. Exemplos: repor (re- (prefixo) + por); felizmente (feliz (radical) + -mente (sufixo) ). Cabe ressaltar ao aluno que a diferença entre prefixos e sufixos não é somente de ordem distribucional. Os prefixos ligam-se a verbos e adjetivos e não contribuem para mudança de classe gramatical ( ver é verbo/rever também é verbo). Fato diferente da natureza dos afixos. Estes por sua vez contribuem para mudança de classe gramatical do radical: civilizar é verbo ao passo que civil é adjetivo

OBS: veremos mais tarde na flexão dos nomes, que as desinências, também, são empregadas após o radical. Então como diferenciar o SUFIXO da DESINÊNCIA?


Resposta: O SUFIXO cria novas palavras, ao passo que as desinências apenas exprimem flexões. Veja os exemplos: aluno/alunas (alun radical a exprime o gênero feminino, s expressa número plural; fogo/fogoso ( oso caracteriza a formação de novo vocábulo/com nova significação).


Como identificar o radical de uma palavra? São dois os caminhos. O primeiro é o da SIGNIFICAÇÃO que consiste dizer que o radical agrega em sim parte da significação total do vocábulo. E o segundo caminho é o da COMUTAÇÃO. “Por esse nome se entende a substituição de uma invariante por outra, de que resulta uma nova palavra”. Entenda melhor nos exemplos:
Livr-
-inh (o)

-ã (o)

-ari (a)

-eir (o)
Perceba que na tabela, temos um mesmo radical: livr-. Uma vez comutado com os sufixos (inh(o), ã(o), ari(a), e –eir (o) derivou-se um novo vocábulo com a significação também nova.


A Derivação ainda pode ser:


PARASSINTÉTICA quando ao radical agregam-se simultaneamente prefixo + sufixo. Sendo que a eliminação de um dos afixos, resultará em uma forma inaceitável na língua. Ex: des + alma + ado. 
 
IMPORTANTE! Como saber se o vocábulo se constitui em derivado prefixal, sufixal ou parassintética? Existe uma técnica para tal indagação (infelizmente não ensinada na escola. Não na minha). Trata-se de analisar o vocábulo por meio dos Constituintes Imediatos (C.I.). Essa análise nos mostra que o “vocábulo não se constitui de uma sequência de morfemas, mas de uma superposição de blocos binários”. Tornemos a compreensão mais fácil. 
 
O vocábulo desgostoso é prefixal, sufixal ?
  1. Depreendamos o sentido semântico do termo. No exemplo temos claramente tratar-se de “cheio de desgosto”, o que gera a segmentação desgosto + oso; logo se trata de uma derivação sufixal.
  2. Tentaremos segmentar este vocábulo partindo da maior unidade significativa para a menor: des + gostoso¹ . O prefixo des aparece ligado a um adjetivo, o que é perfeitamente aceitável em nossa língua; podemos ainda segmentar da seguinte forma: gosto + oso². O sufixo oso agrega-se ao substantivo gosto, o que também é aceitável em nossa língua. Podemos ainda ter uma segunda possibilidade: desgosto + oso e des + gosto. Ocorre que nesta última forma, o prefixo des está ligado a um substantivo o que não é aceitável na língua, pois os prefixos agregam-se a verbos e adjetivos. Assim a primeira forma des + gostoso é a que esta mais de acordo com a estrutura total de nossa língua. 
REGRESSIVA: termo que se obtém mediante redução da palavra derivante. Ex: marco de marcar; debate de debater.


Quem vem antes o verbo ou o nome? Se o substantivo denotar ação, será palavra derivada, e o verbo palavra primitiva, mas se o nome denotar algum objeto ou substância, se verificará o contrário.


DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA: quando o vocábulo passa de uma classe gramatical a outra sem alterações formais. Ex: foi um comício monstro. (substantivo adjetivado).
Outro processo de Formação de Palavras diz respeito à COMPOSIÇÃO. Por composição entende-se a reunião de dois ou mais radicais para formar um vocábulo. Podendo ser:


  1. JUSTAPOSIÇÃO: quando, na formação do vocábulo, os radicais se reúnem sem haja perda de nenhum dos dois. Ex: navio-escola, malmequer, pé-de-moleque.
  2. AGLUTINAÇÃO: nesse processo os radicais se modificam para se fundirem na criação do vocábulo. Ex: fidalgo (filho+de+algo); vinagre (vino+acre).
  3. HIBRIDISMO: na formação do vocábulo tem-se a junção de elementos de línguas diferentes. Ex: abreugrafia (abreu, origem portuguesa, e grafia, de origem grega).
  4. ABREVIAÇÃO: consiste na redução da palavra original. Ex: cine de cinema; foto de fotografia.
  5. ONOMATOPÉIA: formação de vocábulos que tentam imitar certas vozes ou ruídos. Ex: fonfom (som de buzina).

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sistema Literário, Literatura empenhada de Antonio Candido

  1. Depois da Independência o pendor se acentuou, levando a considerar a atividade literária como parte de esforço de construção do país livre, em cumprimento a um programa, bem cedo estabelecido, que visava a diferenciação e particularização dos temas e modos de exprimi-los”. (Antonio Candido, Uma Literatura empenhada)
No texto acima, de Antonio Candido, o autor se refere ao momento pelo qual passou a nossa literatura após a proclamação da Independência de nosso país. Para discorrermos acerca desse momento literário, é necessário citarmos que a formação literária em nosso país, seguiu, antes, as tendências universalistas. Tendências também metropolitanas, em que o próprio Candido afirma ser a nossa literatura “gasalho secundário” de Portugal. Ora, se a nossa nação tornava-se independente, é claro que esse espírito de libertação deveria possuir o habitante local. E seria contraditório tornar-se independente, mas ainda sim, reproduzir uma literatura de outro. Então, a partir desse momento, o nosso escritor “toma consciência de seu papel” e utiliza-se da “atividade literária como parte do esforço para a construção do país livre”. Tornou-se então necessário, inicialmente, diferenciar-se das tendências universalistas particularizando nossos temas e a maneira de exprimi-los. Ganhou destaca-se o Índio como o grande herói nacional, a poesia a partir dos elementos paisagísticos, a sublimação a pátria.

  1. O nacionalismo artístico não pode ser condenado ou louvado em abstrato, pois é fruto de condições históricas”.

Antonio Candido desenvolve essa ideia abordando os seguintes aspectos: a) para o desenvolvimento do seio literário em nosso país, contribuiu de forma principal, a vinda da Família Real Portuguesa, acompanhada por parte da Corte e do funcionalismo. Basta dizermos que essa vinda, por si só já foi sinônimo de crescimento literário e cultural. b) os demais aspectos são resultados do primeiro: implantação de bibliotecas, escolas de ensino superior, tipografias e com isso uma circulação de conhecimento em forma de livros; mais pessoas aprendendo a ler; a gênese de um intelectualismo nacional transmitindo a literatura novas tonalidades, principalmente com o sentimento nacionalista. O escritor passou a ter consciência de seu papel. c) a Independência de nosso país também somou forças a essas mudanças, no que rege principalmente a construção de uma literatura independente.

  1. Antonio Candido considera o “Indianismo” romântico uma “transfiguração do homem natural”, devido ao fato de, em linhas mais simplórias, a literatura, ou melhor, os poetas, terem poematizado o Índio em suas obras. Quero dizer com isso que, se antes o índio fora “apenas descrito, nem sempre com tolerância, e algumas vezes satirizado”, agora passara a ter papel de protagonista, elemento simbólico da pátria. Essa transfiguração é tanta e acredito que fica de maneira melhor compreendida, se ressaltarmos que o nosso índio recebeu novas características (não muito comuns a sua espécie): comportamento requintado, suprema nobreza de sentimentos, costumes ricos de belezas, tanto foram as características transfiguradas ao nosso nativo que este representou para nós o mesmo que o cavaleiro medieval representou para os portugueses.







quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Algum remédio anti-monotonia...

Viver! Dádiva dada ao homem. Vida que pela longa existência do ser (falo daquele que a brancura dos cabelos já chegou sem pedir licença) às vezes cai no abismo da mesmice: aquela queda em que nada de novo acontece, a não ser a constatação que a cada dia mais profundo o abismo se torna. Talvez pensando nisso é que dizemos com tanta ênfase: é preciso saber viver! Aproveitar o Carpe diem que essa própria vida nos oferece. Deixar um pouco a cidade e refletir a existência de existir. Coisas de quem sabe viver a vida. Por isso, que estou ai na foto vislumbrado a beleza do meu Tapajós. E acima de tudo, procurando algum remédio anti monotonia...


Análise do poema: Chão de Estrelas (Oreste Barbosa)


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No poema musicado Chão de Estrelas, o eu – lírico vivencia dois momentos: o primeiro, em que sua vida se torna um palco iluminado, dourado, graças ao convívio com sua amada. E o segundo momento diz respeito a todo o sofrimento de amar devido a partida de sua companheira. O desenrolar do poema gira em torno desses dois momentos cruciais. Os recursos literários utilizados pelo autor justificam essa ideia. Os verbos expressando ações passadas e dando a entender que essa ação ainda continua a acontecer, (minha vida era... eu vivia... andei cantando... tinha o alegre...) em oposição à ação presente: e hoje... Comprovam esses dois momentos da vida do eu - lírico.
De forma geral, as características que encontramos nesse poema nos remetem ao Romantismo. De inicio, temos um Eu - lírico em que os sentimentos são subjetivos, fazendo-se uso da função emotiva para firmar a lírica romântica. Muito comum ao nosso romantismo, temos o escapismo aí presente. Aliás, como uma forma de fuga da realidade, tem-se uma recorrência à natureza. Essa bem diferente da natureza árcade significa e revela. O sol revela a realidade ao poeta (e, hoje, quando do sol, a claridade...). Já a noite inspira-lhe ao sonho e a imaginação: mas a lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão... E o que dizer da mulher responsável por essa nostalgia embriagante eu – lírico em questão? Ela pode até não ter os cabelos tão negros como as asas da graúna, mas de certo se fez pomba num vôo em que somente a tristeza ficou: sinto saudade/ da mulher pomba-rola que voou. A presença de elementos da natureza nos faz crer que a vida pode ser tão feliz como o cantar dos pássaros: nosso barracão..., tinha um alegre cantar de um viveiro. Como já disse, a amada em questão pode até não ter os lábios de mel, ou os cabelos negros da cor da asa da graúna e nem a formosura de Isaura, mas tem a mesma sublimação das personagens citadas: tu pisavas nos astros distraídas... E esse devaneio do eu – lírico, em que ela caminha magistralmente sobre o reflexo das estrelas no chão da casa, é fruto das “forças inconscientes da alma: o sonho e a imaginação” que só a noite pode propiciar.



Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações

Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou

Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros, distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Leo, Norma e Dostoiévski

Sempre imaginei que as novelas de nada servissem a não ser apenas para fabricar jargões que facilmente caem na boca do povo; ditar moda vestuária e alimentícia. E fazer do povo bonecos de fantoche que confundem a própria vida com a trama que assistem. Mas enganei-me. Como assim? Pergunta o leitor atento. Entre mocinhos e vilões, não é que a Literatura se fez presente! Não entendeu? Calma. A Jandira (coleguinha da personagem Norma) também não. Eis como a literatura “quase roubou a cena”.
No capitulo 66 de Insensato Coração, Norma toma um exemplar de Crime e Castigo de Fiódor Dostoievski, olha a capa e diz: “que livro pesado...”. Jandira, sua colega de cela, responde: “é grande, sim, revista é mais leve”. Norma esclarece: “não, eu tava falando que ele é denso, forte. Quando a gente lê aprende mais sobre a vida. Achava que sabia muito coisa, mas só agora comecei entender melhor as pessoas...” (trecho extraído da revista Metáfora ano1 – Nº1 setembro de 2011, p.16)
Após o contato com Dostoiévski, a personagem Norma adquire o poder que a leitura e principalmente a Literatura nos proporciona: a transformação social. O evangelho tão anunciado por Paulo Freire.
Norma abandona o véu da inocência que a fez perecer por crimes não cometidos. E chega até afirmar que se tivesse lido anteriormente, jamais teria sido enganada. Mas o inquieto leitor deva estar se perguntado: onde está o mal aí presente? Fique sabendo você que em abril muitos fãs incontestáveis da teledramaturgia ligaram desesperadamente à Central Globo de Atendimento ao Telespectador a fim de terem em mãos a lista dos livros que compunham a Biblioteca de Norma. Bom saber que a Literatura desperta emoções. Infelizmente, porém, é saber que mais uma vez a “telinha” ditou as regras do viver.


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O MISTÉRIO DO MAPINGUARÍ

Sobre a mesa a garrafa de café encardida, o cachimbo recém usado e uma velha “poronga” que alumiava o interior do barraco de taipa. Num canto próximo ao camburão com milho e as sacas de feijão e farinha, uma vela acessa. Ajoelhado diante dela seu João Tenório, um velho senhor malacafento, roga a seu santo sorte na mira da espingarda. Terminada a reza, o homem amarra em um dos pés um enorme dente de jacaré para expulsar de si todo e qualquer perigo de ser picado por cobra. Em seguida, senta-se no único tamborete da casa segurando firmemente a espingarda. Acende novamente o cachimbo e assim, calmamente, espera por um novo ataque do maldito bicho. Seria realmente o lendário monstro o responsável pela matança de muitos de seus animais nas noites anteriores? Ou seria apenas a ação de um caboclo vadio, querendo matar a sua ingrata fome e meter medo nesse pobre senhor?
A noite seguiu sem novidades. O silencio era predominante. Até que no principio da madrugada a calmaria deu lugar a tormenta. Os cachorros começaram a latir desesperadamente em direção a mata. Os animais do sitio debatiam-se assustados. Foi exatamente nesse momento que um enorme estrondo vindo da selva seguido de um grito intenso fez o homem acordar e arrepiar-se por completo. Benzeu-se por três vezes fazendo o sinal da santa cruz. Abriu rapidamente a cancela e pôs-se com a espingarda em punho e a lanterna na mão em direção a primeira vereda que viu na mata. Chamou os cachorros, mas esses, com medo, se recusaram a obedecê-lo. Então correu sozinho seguindo o rastro do bicho a quebrar a floresta.
Passada quase uma hora de perseguição o homem cansou-se. Resolveu então esperar pelo bicho até aquele momento, desconhecido. Subiu em uma árvore mediana. E lá fez tocaia por mais de uma hora. A todo instante ele pressentia a presença do bicho. De repente... O mistério de qual bicho seria aquele responsável por dilacerar dez cabeças de gado, cinco porcos, dois patos e sete galinhas desvendava-se. Verdadeiramente, aquele senhor tinha razão. A fera revelou-se: enorme, pra mais de dois metros de altura, pêlo grosso, mais grosso que qualquer couraça que já tenha existido, unhas enormes e afiadas, na testa os olhos medonhos e na altura do umbigo a boca monstruosa. Tratava-se do lendário MAPINGUARÍ.  
O ouvido aguçado da fera colossal sentiu a respiração miúda do homem. E eis que o monstro exalou um piché, o que fez com que o senhor João perdesse as forças e caísse próximo aos pés da besta. O medo tomou conta do pobre senhor, mas ainda sim, esse não titubeou por completo. Ergueu a mão trêmula, mirou bem no umbigo do monstro e disparou a espingarda. Porém, a fera moveu-se rapidamente fazendo com que o cartucho atingisse apenas a proximidade de seu umbigo. Ferido, o bicho deu um pavoroso esturro agonizante e disparou, desnorteado, em meio ao breu da mata. Quase incrédulo pelo acontecido, seu João Tenório, ofegante, voltou para casa atordoado pelo confronto com o diabólico ser.      
Passado o episódio quase kafkiano, uma aparente paz voltou há reinar no sitio de seu Tenório. O silencio foi quebrado um dia com a chegada de alguns vizinhos que vieram convidá-lo a fazer uma reza na casa do já malacafento Mariano, morador longínquo da comunidade, de quem se dizia virar bicho durante as noites por causa de sua fisionomia fantasmagórica: esquio, barba encardida, cabeludo, olhos amarelados e a boca quase banguela, a não ser pela permanência das presas escuras.  Seu Tenório, de sangue tapuio nas veias, seguiu com os vizinhos até a casa do Mariano, a fim de providenciarem as Exéquias. 
 A casa era de uma aparência assustadora. Um livro de capa preta em cima do pitisqueiro chamava atenção dos visitantes. Na verdade, aquele morador não convivia com a comunidade. Ninguém sabia de sua origem. Rara às vezes, que acompanhava uma ladainha aqui e outra acolá, mas apenas de dia e sempre com atitudes estranhas. Dirigiram-se ao quarto e encontraram o velho de aparência amedrontante já agonizando na cama. Um lençol encardido cobria um ferimento de cartucheira bem na altura do umbigo. Questionado do ferimento, alegou ter disparado por distração o do badogue que pusera dias antes no quintal de casa com o intuito de capturar um veado. Não tardou e um último suspiro se viu sair de suas narinas. À boca da noite, enterraram-no em um caixão de madeira roliça na outra margem do Rio Tapajós.   
Na noite seguinte, o senhor João Tenório não mais acendeu vela, não fez reza, fez apenas o sinal da santa cruz uma vez só e passou a noite inteira, espreguiçado na rede atada sobre o paiol de arroz tomando goles compassados de café amargo. Em fim... o sossego.
E ainda tem caboclo amazônida teimoso que insiste em dizer que isso não passa de uma lenda.
  

REFLEXÔES SOBRE A VIDA...


Há muito essa indagação sobre nossa objetividade do viver vem ocupando parte das minhas poesias. Mas só agora decidi fazer disso uma reflexão maior.

O que é a vida? 

Viver é muito mais que deixar-se embalar pelo ritmo musical do “deixa a vida me levar/vida leva eu”. Mas por outro lado, viver é deixar-se embalar pela objetividade da vida expressa na canção: “e a vida o que é diga lá meu irmão...” e dessas reflexões vamos perceber que viver é perceber-se vivo e ter consciência de sua missão enquanto ser humano. Aliás, cada homem escolherá uma forma de ser: padre, médico, policial... Creio que cada homem deva assumir os dons oferecidos por Deus. Assim pensando a vida é uma longa estrada: o nascer é o ponto de saída; e a morte o ponto de chegada. No entanto, entre esses dois eixos é que de fato se faz a vida. Primeiro, escolheremos o que “ser”. Em seguida, preencheremos a nossa vida com as ocupações dessa escolha. Uns viverão das muitas tramas literárias; contos que se confundirão com a própria vida. Outros serão escravos de suas atividades profissionais. Outros ainda serão juízes, enquanto seus irmãos nunca passarão de réus confinados da inútil vida. Poucos serão ídolos, já muitos nunca passarão de fãs inconscientes. Mas para todos o viver não será eterno. Eterno apenas a morte... Em algum ponto da estrada o caminhante se deparará com o monstruoso abismo que a morte nos impõe. E quando esse momento chegar já deveremos ter feito valido à pena o sopro divino que sai de nossas narinas. Pois, é realmente curta a chance que o criador nos dá. Curta como a vida de uma borboleta... De toda essa reflexão uma coisa é certa: o que é essencial a vida sempre será invisível aos olhos da face. E se o essencial será invisível, o que na verdade viveremos será apenas o lado fútil, efêmero da vida. Diante disso, quando a brancura natural ou antecipada de nossos cabelos chegar, um arrependimento com certeza será inevitável: que a vida fora realmente muito curta...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

DATILOGRAFANDO


Nunca conheci pessoalmente essa velha companheira de meus contemporâneos. Acho que por isso não me considero poeta por completo. Ou um grande poeta. Acredito que hoje a arte da metrificação que dá nova vida as palavras tornou-se mais fácil. Pelo menos no que diz respeito a sua concretização formal deleitada sobre a página em branco: a vida impressa!
Fico imaginando a dificuldade da rápida captura do pensamento poético pelo poeta. Captura que, tardia, levava o poeta a difícil missão da correção. E de correção em correção o leito das palavras obscurecia-se em traços desagradáveis. Por isso, tenho nesses poetas uma admiração muito grande. Admiração que surge de minhas leituras. Dos clássicos não estacionados em minha biblioteca.
Hoje, não caminho pela mesma estrada. Tenho um notebook onde acredito compor poesias. E de maneira mais fácil. Se erro a concretização do pensamento, aperto DELETE e tudo volta ao normal. E entre semelhanças e dicotomias uma coisa persiste: o prazer pela arte de escrever.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Nostalgiando


Às vezes me pego embebido numa nostalgia sem fim,
Parece que a vivência de outrora não me deixa construir o futuro.
Lembranças de quando criança corria pelo cás da Vera-Paz,
De quando adolescente imaginava um futuro distante,
De quando jovem vivenciava os sonhos do futuro agora presente...
Sonhos que não voltam mais.
Até mesmo daquela casa. Santa casa!
Do amanhecer mais cedo,
Do trágico fim de um sonho que também se desfez cedo.
Mas de toda uma vida, do que mais sinto saudades?
Das coisas boas com certeza...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Boiúna



Diz-se que a floresta é o mundo do encantamento: onde as entidades ganham forma e seduzem o caboclo. Sedução, aliás, longe da imaginação de uma musa exuberante; sedução mítica e muitas vezes assombrosa.
O “caboco”, de quem agora passo a narrar tais acontecimentos, não era crente dessas aparições de jurupari, cobra-norato, curupira, boto... Mas também não era descrente. Sabia respeitar a crendice (era como ele simplesmente chamava tais manifestações) de seus vizinhos, moradores do Tapajós. Porém, o protagonista de nossa narrativa verídica, após mítica experiência em meio à floresta noturna viu-se forçado a redefinir suas certezas.
O dia, que pela assombrosidade do encontro apagou-se de sua memória, não me foi relatado. Isso, porém, não foi empecilho para que a história sofresse perdas e a mim fosse contada de maneira quebrada. Quando das primeiras indagações que fiz, o homem gaguejou nas respostas. Parecia ainda estar possuído por um espírito. No entanto, enganei-me: era apenas medo que ele sentia. Tendo puxado três ou quatro vezes uma respiração profunda, ele disparou a falar:
_ “Rapaz era umas meia noite. Eu já tinha vasculhado toda aquela mata e nada de caça. Foi quando então eu decidi voltar pra casa. E se eu te contar que durante o caminho de volta eu ouvi um choro parecido com de criança? Mãe do céu! Fiquei todo arrepiado, a modo que alguém me seguisse. Logo mais na frente, depois da castanheira do Raimundo André, eu vi uma criança no chão. Devia ter alguns anos. Confesso que não era das mais bonitas... Levei-a pra casa a modo cuidar dela. Semanas depois, o povo começou a dizer que era filha de boto ou da mãe da mata. Eu não dava ouvido pro que eles diziam. Tratei da pequena.
Porém, quando ela completou seus sete anos percebi mudanças em seu comportamento. O olhar passou a ter uma tonalidade morta. Os beiços ficaram roxeados. As mãos pareciam não corresponder com a idade. Isso fez com que cada vez mais o povo passasse a ter certeza de sua origem.
Distante de tais crendices resolvi levar minha filha pro médico, do outro lado da mata. O caminho seguia uma longínqua trilha paralela ao igarapé da Toca da Raposa. Já tendo percorrido mais da metade do trajeto ouvi uma voz estranha. Como se uma mãe procurasse pela filha perdida. Isso me arrepiou todo, mas não a minha filha. Depois das três bocas vi uma bela mulher em pé ao lado do maracujazeiro de macaco. Ela chamava pela minha filha. Isso mesmo!!! Logo imaginei ter encontrada a mãe da pequena.
Chamou-a três vezes por um nome que não pude muito bem compreender. A pequena, meio que hipnotizada, segui em direção a mulher estranha. Esta a pegou pelos braços dando-lhe um abraço caloroso. Nesse instante percebi que a fisionomia de ambas mudava de maneira sorrateira. Os olhos ficaram vermelhados, a pele como de cobra, no lugar dos cabelos pareceram cobras horríveis. Uma escuridão repentina desclareou o lugar. A mulher desferiu um grito agudo e ambas mergulharam no garapé”.
Foi o causo que me aconteceu...