- “Depois da Independência o pendor se acentuou, levando a considerar a atividade literária como parte de esforço de construção do país livre, em cumprimento a um programa, bem cedo estabelecido, que visava a diferenciação e particularização dos temas e modos de exprimi-los”. (Antonio Candido, Uma Literatura empenhada)
No
texto acima, de Antonio Candido, o autor se refere ao momento pelo
qual passou a nossa literatura após a proclamação da Independência
de nosso país. Para discorrermos acerca desse momento literário, é
necessário citarmos que a formação literária em nosso país,
seguiu, antes, as tendências universalistas. Tendências também
metropolitanas, em que o próprio Candido afirma ser a nossa
literatura “gasalho secundário” de Portugal. Ora, se a nossa
nação tornava-se independente, é claro que esse espírito de
libertação deveria possuir o habitante local. E seria contraditório
tornar-se independente, mas ainda sim, reproduzir uma literatura de
outro. Então, a partir desse momento, o nosso escritor “toma
consciência de seu papel” e utiliza-se da “atividade literária
como parte do esforço para a construção do país livre”.
Tornou-se então necessário, inicialmente, diferenciar-se das
tendências universalistas particularizando nossos temas e a maneira
de exprimi-los. Ganhou destaca-se o Índio como o grande herói
nacional, a poesia a partir dos elementos paisagísticos, a
sublimação a pátria.
- “O nacionalismo artístico não pode ser condenado ou louvado em abstrato, pois é fruto de condições históricas”.
Antonio
Candido desenvolve essa ideia abordando os seguintes aspectos: a)
para o desenvolvimento do seio literário em nosso país, contribuiu
de forma principal, a vinda da Família Real Portuguesa, acompanhada
por parte da Corte e do funcionalismo. Basta dizermos que essa vinda,
por si só já foi sinônimo de crescimento literário e cultural. b)
os demais aspectos são resultados do primeiro: implantação de
bibliotecas, escolas de ensino superior, tipografias e com isso uma
circulação de conhecimento em forma de livros; mais pessoas
aprendendo a ler; a gênese de um intelectualismo nacional
transmitindo a literatura novas tonalidades, principalmente com o
sentimento nacionalista. O escritor passou a ter consciência de seu
papel. c) a Independência de nosso país também somou forças a
essas mudanças, no que rege principalmente a construção de uma
literatura independente.
- Antonio Candido considera o “Indianismo” romântico uma “transfiguração do homem natural”, devido ao fato de, em linhas mais simplórias, a literatura, ou melhor, os poetas, terem poematizado o Índio em suas obras. Quero dizer com isso que, se antes o índio fora “apenas descrito, nem sempre com tolerância, e algumas vezes satirizado”, agora passara a ter papel de protagonista, elemento simbólico da pátria. Essa transfiguração é tanta e acredito que fica de maneira melhor compreendida, se ressaltarmos que o nosso índio recebeu novas características (não muito comuns a sua espécie): comportamento requintado, suprema nobreza de sentimentos, costumes ricos de belezas, tanto foram as características transfiguradas ao nosso nativo que este representou para nós o mesmo que o cavaleiro medieval representou para os portugueses.
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