quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sistema Literário, Literatura empenhada de Antonio Candido

  1. Depois da Independência o pendor se acentuou, levando a considerar a atividade literária como parte de esforço de construção do país livre, em cumprimento a um programa, bem cedo estabelecido, que visava a diferenciação e particularização dos temas e modos de exprimi-los”. (Antonio Candido, Uma Literatura empenhada)
No texto acima, de Antonio Candido, o autor se refere ao momento pelo qual passou a nossa literatura após a proclamação da Independência de nosso país. Para discorrermos acerca desse momento literário, é necessário citarmos que a formação literária em nosso país, seguiu, antes, as tendências universalistas. Tendências também metropolitanas, em que o próprio Candido afirma ser a nossa literatura “gasalho secundário” de Portugal. Ora, se a nossa nação tornava-se independente, é claro que esse espírito de libertação deveria possuir o habitante local. E seria contraditório tornar-se independente, mas ainda sim, reproduzir uma literatura de outro. Então, a partir desse momento, o nosso escritor “toma consciência de seu papel” e utiliza-se da “atividade literária como parte do esforço para a construção do país livre”. Tornou-se então necessário, inicialmente, diferenciar-se das tendências universalistas particularizando nossos temas e a maneira de exprimi-los. Ganhou destaca-se o Índio como o grande herói nacional, a poesia a partir dos elementos paisagísticos, a sublimação a pátria.

  1. O nacionalismo artístico não pode ser condenado ou louvado em abstrato, pois é fruto de condições históricas”.

Antonio Candido desenvolve essa ideia abordando os seguintes aspectos: a) para o desenvolvimento do seio literário em nosso país, contribuiu de forma principal, a vinda da Família Real Portuguesa, acompanhada por parte da Corte e do funcionalismo. Basta dizermos que essa vinda, por si só já foi sinônimo de crescimento literário e cultural. b) os demais aspectos são resultados do primeiro: implantação de bibliotecas, escolas de ensino superior, tipografias e com isso uma circulação de conhecimento em forma de livros; mais pessoas aprendendo a ler; a gênese de um intelectualismo nacional transmitindo a literatura novas tonalidades, principalmente com o sentimento nacionalista. O escritor passou a ter consciência de seu papel. c) a Independência de nosso país também somou forças a essas mudanças, no que rege principalmente a construção de uma literatura independente.

  1. Antonio Candido considera o “Indianismo” romântico uma “transfiguração do homem natural”, devido ao fato de, em linhas mais simplórias, a literatura, ou melhor, os poetas, terem poematizado o Índio em suas obras. Quero dizer com isso que, se antes o índio fora “apenas descrito, nem sempre com tolerância, e algumas vezes satirizado”, agora passara a ter papel de protagonista, elemento simbólico da pátria. Essa transfiguração é tanta e acredito que fica de maneira melhor compreendida, se ressaltarmos que o nosso índio recebeu novas características (não muito comuns a sua espécie): comportamento requintado, suprema nobreza de sentimentos, costumes ricos de belezas, tanto foram as características transfiguradas ao nosso nativo que este representou para nós o mesmo que o cavaleiro medieval representou para os portugueses.







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