Símbolo da nossa literatura abolicionista, Castro Alves
em seu poema Antítese, justifica o emprego do titulo pela descrição oposta,
contraria entre homem branco (livre) e o negro (escravo). O poema inicia seu
leito apresentando a florida vida nos bailes suntuosos. A descrição que temos é
de um ambiente luxuoso e feliz: “cintila
a festa nas salas! Das serpentinas de prata jorram luzes em cascata/ sobre
sedas e rubis/ soa a orquestra...” A alegria é tamanha que os pares dançando
parecem Silfos numa valsa mágica: “como silfos/ na valsa os pares perpassam/
sobre as flores, que se enlaçam nos tapetes de coxins”.
A partir da segunda estrofe o ambiente de Antítese
ganha forma. Saindo do luxuoso espaço de festa “a névoa da noite, no átrio, na vasta rua” ambienta o espaço daquele
que “como um sudário flutua/ nos ombros
da solidão”. Trata-se daquele que recebeu como prêmio, já no limiar das
forças, o desprezo e uma carta de alforria: o escravo! O espaço por este habitado
não é dos salões de festas, mas a praça como única morada: “a praça em meio se agita”. “Espécie de cão sem dono” torna-se um
sujeito em que a sua condição humana torna-se degredada: “desprezado na agonia/ larva da noite sombria/ mescla de trevas e
horror”.
E se a curiosidade do leitor o instiga a querer saber
quem é a larva da noite sombria, na
estrofe seguinte o autor descreve o ser e sua situação social: “é ele o escravo maldito/ o velho
desamparado/ bem como o cedro lascado/ bem como o cedro no chão. Tem por leito
de agonias/ as lájeas do pavimento/ e como único lamento/ passa rugindo o tufão”.
E na última estrofe, o poeta grita a favor do
escravo: “chorai, orvalhos da
noite/soluçai ventos errantes/ sede os círios do infeliz!”. E denuncia a
morte-social, a morte-econômica do “cadáver
insepulto”, que a própria alforria e o desprezo, a liberdade não assistida já
predizia.
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