domingo, 25 de fevereiro de 2018

Inglês de Sousa e sua importância para a cidade de Óbidos


Sem mais delongas: qual a importância que o escritor Inglês de Souza tem para a cidade de Óbidos? É importante perpetuar esse sentimento de orgulho por se ter um conterrâneo que ao lado de Machado de Assis, e tantos outros literatos, fundou a Acadêmica Brasileira de Letras?   Calma, caríssimo leitor vamos às explicações.
Recentemente, em rede social, um edil da câmara de vereadores de Óbidos fez uma enquete em, sua página pessoal, pedindo a opinião de seus (e)leitores quanto a uma proposta sua de homenagear o centenário de morte de Herculano marcos Inglês de Sousa. A proposta consistia na substituição do nome atual de uma rua por Avenida Inglês de Souza.  O resultado, como já previsto, foi uma total negação da proposta. Mas isso não é o maior agravante. O que causou perplexidade mesmo foi ler comentários dizendo que não há mais necessidade de homenageá-lo (o pouco que já se fez basta). Ou comentários questionando o que Óbidos vem a ganhar com isso? Por outro lado, também vale ressaltar que a pesquisa revelou que os munícipes sabem quem foi Herculano Marcos Inglês de Sousa. No entanto, será se essas mesmas pessoas também sabem quem foi Luiz Dolzani (pseudônimo com o qual assinava suas obras)?
Não basta apenas saber quem foi inglês de Sousa: é preciso conhecê-lo. É preciso valorar sua obra.
Diferentemente do que muitos pensam não é por que Inglês de Souza viveu poucos meses em Óbidos (tudo indica que ele foi embora com apenas quatro meses de idade, conforme cronologia de Vicente Salles, no livro História de um pescador), que sua representatividade deva ser menor. Aliás, não é o tempo que ele morou aqui o balizador para medir o quanto ele possa ser importante para a cidade, e sim o seu legado literário-cultural que tomou Óbidos como a grande inspiração para o conjunto de sua obra. E ouço dizer mais: diante da escassa historiografia do município a obra inglesiana configura-se como documento histórico-social (leia-se a descrição da cidade feita por ele em nota no livro O Cacaulista).
Herculano Marcos Inglês de Sousa habita num mundo de notáveis escritores mundiais. É de se perpetuar sim o sentimento de alegria por ter sido ele um exímio escritor naturalista nascido no interior da Amazônia. Só que mais que isso é preciso redescobrir sua obra. Demonstrar sua importância para os munícipes (só se valoriza aquilo que se conhece). É preciso, acima de tudo, torná-la lida. Ter exemplares na biblioteca pública e nas escolas. É preciso demonstrar que essa literatura inglesiana faz parte da cultura da cidade tal como a cultura do carnapauxis, a cultura material arquitetônica dos casarios e as muitas manifestações artísticas espalhadas pelo município.
Que neste ano de centenário de morte do autor possamos celebrar o seu legado. E para tanto defendo a realização de uma grande programação literária (festival de literatura, concurso de contos, poesias...) como também a instituição da medalha Inglês de Souza destinada para pessoas que se destacarem no campo das artes e principalmente da literatura. E ao invés de trocar o nome de uma rua por que não renomear algum prédio público com o nome do nosso exímio escritor obidense?
Fica aqui a humilde opinião de quem lê e estuda a obra inglesiana. E que, além disso, orgulha-se em morar na mesma cidade em que nasceu um dos maiores escritores da nossa literatura.  

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

II Seminário de Gestão: escola como organização educativa

Ocorrerá, no dia 01/03/2018, nas dependências do Campus da Ufopa em Óbidos,  o II Seminário de Gestão. Neste ano o tema será: A escola como organização educativa. 
Este evento é resultado da disciplina de mesmo nome ministrada na turma de Pedagogia 2015 do Campus Óbidos. E o objetivo principal do evento é conectar ideias no âmbito da gestão escolar. 
O encontro será voltado a toda comunidade externa, mas principalmente a estudantes, gestores, coordenadores e professores da educação básica.  

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Resumo do livro HISTÓRIA DE UM PESCADOR - Scenas da Vida do Amazonas, Inglês de Souza


Em História de um Pescador, como o próprio título já sugere, temos a difícil vida do pescador José narrada. Bem como definiu Vicente Salles: “trata-se da luta do tapuio José, contra a exploração do capitão Fabrício, pelo endividamento progressivo e submissão aos seus caprichos de chefe político e grande proprietário de terras”.  
Ocorre que, o personagem José, fora estudar no colégio de S. Luiz Gonzaga, em Óbidos, tendo o seu pai sido convencido pelo vigário da necessidade de ensinar alguma coisa ao curumim. Mas como não fora por vontade própria a ida de José para o colégio, o mesmo sofria com a distância e o modo de vida a que estava acostumado no sítio. Esta sofrível vida perdurou por quatro anos. Até que um dia, a mãe o fora visitar para anunciar-lhe a notícia da morte do pai, Anselmo Marques, tapuio pescador do Igarapé de Alenquer. Que morrera afogado em uma viagem que fizera a Santarém por ordem do capitão Fabrício Aurélio.
Se a vida de estudante era ruim, o ruim mesmo estava por vir.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Dez curiosidades sobre a História de Óbidos...


Por Pe. Sidney Augusto Canto

01. As tensões políticas e o “quebra urna”...
Há 150 anos atrás, o clima político em Óbidos era tenso. A disputa entre os dois únicos partidos, o Liberal e o Conservador levou a um fato inusitado. Em 07 de setembro de 1868, militantes invadiram a Igreja Matriz de Santa Ana e quebraram a urna, invalidando, assim, a eleição dos novos vereadores municipais. Uma segunda eleição seria realizada naquele ano, desta vez, sob o olhar de reforço policial enviado da capital da Província. Tudo correu “em paz”, com vitória do partido Conservador.

02. O médico da Comarca de Óbidos...
Há 150 anos atrás, era criado o cargo de “Médico da Comarca de Óbidos”, que deveria cuidar da saúde dos cidadãos obidenses. Como primeiro “Médico da Comarca”, foi nomeado o dr. José Veríssimo de Mattos, que começou a exercer o cargo em novembro daquele ano. Dr. Veríssimo não era um desconhecido do povo obidense, visto ter sido médico da antiga “Colônia Militar”, que havia sido extinta em 1865.

03. Os primeiros dias da Comarca de Óbidos...
Criada pela Lei Provincial Nº 520 de 23 de setembro de 1867, teve como seu primeiro juiz o dr. Marcos Antônio Rodrigues de Souza, que era juiz de direito da Comarca de Parintins, sendo dela removido a 21 de dezembro de 1867 para tomar posse e instalar a Comarca de Óbidos a 16 de fevereiro de 1868. Dr. Marcos era, também, Deputado Provincial naquele mesmo ano. Seu primeiro promotor público foi nomeado a 03 de fevereiro de 1868, trata-se do dr. José Clímaco do Espírito Santo, que tomou posse a 22 de abril do mesmo ano, ficando apenas alguns dias na Promotoria de Óbidos, sendo transferido, no mesmo ano, para a Comarca de Breves.

04. O falecimento de um ilustre pároco...
No dia 17 de setembro de 1864, após padecer nove dias de dor e sofrimento, falece, em Óbidos, o padre Raymundo Antônio Sanches de Brito, que foi pároco da igreja matriz de Santa Ana por 50 anos. Sacerdote zeloso e exemplar, mereceu elogios a ele tecidos pelo cientista protestante Henry Bates, quando de sua passagem pelo município de Óbidos.

05. A “questão religiosa” e o vigário de Óbidos...
No dia 18 de fevereiro de 1872, o vigário interino da cidade de Óbidos, o padre Manoel José da Cunha renova publicamente seus votos de obediência e adesão à fé católica, pronunciando-se contra os “opositores” da Igreja (no caso os maçons), que perseguiam o então Bispo do Pará, Dom Antônio de Macedo Costa.

06. Notícias sobre os imigrantes cearenses...
Por causa da “grande seca” do ano de 1876 e 1877, muitos cearenses migraram para o Pará, onde estabeleceram colônias distribuídas a critério do Governo Provincial. Foi assim que, no dia 04 de janeiro de 1878, o presidente da Província do Pará, manda os senhores Singlehurst Brocklehurst & Cia., darem passagem de proa no vapor “Theresina” a uma leva de imigrantes cearenses que deveriam desembarcar em Óbidos para começar uma nova colônia na cidade.

07. Um surto de varíola e o abandono médico...
No início do ano de 1900, um passageiro do vapor do “Loyd Brasileiro” desembarcou em Óbidos. Dois dias depois, foi descoberto que ele estava infectado com varíola e foi colocado em quarentena num casebre abandonado fora da cidade. Era tarde demais. A epidemia espalhou-se pela cidade no exato momento em que o médico local, dr. Salvador Rezzo, pediu exoneração do cargo de Comissário de Higiene e deixou a cidade e povo abandonado à própria sorte.

08. No respaldo da grande cheia de 1918...
O Intendente Municipal de Óbidos, Graciliano Negreiros, pede que o governo do Estado interceda ao Ministério da Guerra, que libere os soldados recém-engajados no quartel instalado no município, pelo período de 30 dias, para que os mesmos possam ir aos seus sítios de várzea, salvar o que restava de seu gado.

09. A estrada para a Guiana Holandesa...
Em 1917, o Intendente Municipal de Óbidos, tenente Graciliano Negreiros, dava início à construção de uma estrada que deveria ligar a cidade de Óbidos à Guiana Holandesa. Foram gastos 30:000$000 (trinta contos de réis) do dinheiro dos cofres do município e abertos apenas 29 km da referida estrada.

10. A navegação a vapor com o rio Trombetas...
Em 13 de janeiro de 1900 (outras fontes citam 14), começa a funcionar a linha de navegação a vapor de Óbidos ao Alto Trombetas. Esta linha era de propriedade do sr. Francisco Gomes de Azevedo, mas subvencionada pelo Governo do Estado. A linha, entretanto, havia sido pedida 10 anos antes, pelos comerciantes e políticos da cidade.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Literatura da melhor qualidade



Wildson Queiroz[1]
Com título “Um pouco de muitas histórias”, o mais recente livro de Célio Simões de Souza, ilustre obidense, é um belo exemplo do que temos de melhor na literatura paraense contemporânea.
A obra reúne uma seleção de crônicas com relatos sobre a infância e juventude do autor vividos em sua cidade natal e em outras localidades, conta fatos curiosos e até engraçados do cotidiano de quem vive no interior da Amazônia.
Sem fugir da tradição literária da sua querida Óbidos, tão famosa por conta dos ilustres Inglês de Sousa e José Veríssimo, o livro eleva seu autor, já consagrado no meio jurídico e acadêmico, ao mesmo nível literário de seus conterrâneos famosos.
 O conteúdo apresenta-se de forma magistral sem tornar a leitura cansativa ou entediante, os textos foram escritos de modo acessíveis ao público em geral, não incorrendo em termos técnicos ou acadêmicos.
Impossível não imaginar as cenas pitorescas narradas no livro levando-se em conta os detalhes tão bem empregados pelo autor no desenrolar das histórias, transportando o leitor ao momento exato em que o fato se dá, a bucólica Óbidos e sua gente tão bem retratada nas mais diversas situações vividas por quem habita as cidades quase esquecidas deste imenso país.
Li com enorme prazer e recomendo com franqueza “Um pouco de muitas histórias” a todos que apreciam literatura da melhor qualidade e tenham interesse em se aprofundar e conhecer um pouco mais sobre a história e os causos regionais contados por Célio Simões de Souza de forma leve, divertida e tremendamente agradável.












[1] Pedagogo, historiador e escritor, sócio fundador do Instituto histórico e Geográfico do Tapajós – IHGTap.