BAGNO,
Marcos. Preconceito linguístico: o que é,
como se faz. 54ed. São Paulo: Edições Loyola, 2011.
Existe uma série
de (pré) conceitos relacionados ao português falado no Brasil, julgando-o desde
um idioma muito difícil de ser aprendido,
inclusive pelo próprio falante materno, a uma língua homogênea num território de mais de 190 milhões de falantes.
Com o objetivo de desconstruir pensamentos como esses é que Marcos Bagno desmistifica
oito principais mitos de uma mitologia do preconceito linguístico. A saber: Mito n° 1: “O português do Brasil apresenta
uma unidade surpreendente”. A
afirmação sacramentada por muitos, crê numa fala homogênea em que ela seja
comum a mais de 190 milhões de brasileiros. Esse pensamento exclui diversos
fatores linguísticos e extralinguísticos responsáveis pela heterogeneidade que
o português brasileiro assume. Mito n°2:
“O brasileiro não sabe português/ Só em
Portugal se fala bem português. Esse mito reflete um complexo de
inferioridade de um povo que traz consigo as marcas da colonização em que a
própria língua é subjugada inferior em relação à língua do país colonizador.
Chegando ao absurdo de dizer que o próprio falante, embora materno, não saiba
seu próprio idioma por não utilizá-lo tal quais seus irmãos lusitanos. Mito n°3: “Português é muito difícil”. Essa ideia só corrobora o mito
anterior de que “brasileiro não sabe a sua própria língua”. Na verdade,
confunde-se a o uso da língua com o estudo da gramática baseada em normas
gramaticais literárias de Portugal. Por isso, que esse mito ainda ganha teor de
verdade, uma vez que a dificuldade se encontra nas inúmeras regras gramaticais,
muitas das quais, desvinculadas do uso real da língua. Mito n°4: “As pessoas sem
instrução falam tudo errado”. Esse pensamento crê na tríade
escola-gramática-dicionário como o único caminho possível para a iluminação no
uso correto da língua portuguesa. Logo, as pessoas menos escolarizadas, ou que
não passem pelo caminho já citado, têm a sua manifestação linguística
considerada como errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente. Mito n°5) “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”.
Esse mito tenta se auto justificar tomando por base o fato de no Maranhão
usar-se com certa regularidade o pronome “tu”, marcação especifica verbal da
segunda pessoa. Mas o mesmo falante por vez esquece-se desse arcaísmo e realiza
construções em que o “tu” é substituído por “ti” assumindo a mesma forma do
pronome “mim” posposto da preposição para, anteposto de verbo no infinitivo. Mito n°6) “O certo é falar assim porque se escreve assim”. Esse mito logo
cai por terra, pois, em nenhuma língua do mundo fala e escrita se equivalem. A
escrita surgiu como uma tentativa de representação da fala. Além do que, muitos
sons não podem ser diferenciados na fala como o “u” e “l” finais. Mito n°7: “É preciso saber gramática para
falar e escrever bem”. Esse mito é facilmente desmistificado, pois, se
é preciso saber gramática para falar e principalmente escrever bem, nossos
grandes escritores teriam seus rótulos de “imortais” cassados por inabilidade
gramatical, já que muitos desses declararam desconhecer o âmago das regras e
exceções gramaticais. Mito n°8: “O domínio da norma-padrão é um instrumento
de ascensão social”. Se essa ideia de fato fosse verdadeira, os
professores de língua portuguesa estariam no topo da pirâmide social. Pois quem
além deles tem relação tão íntima com o idioma. Por outro lado, a falta de
domínio da norma-padrão não é fator condenatório a exclusão social.
Trabalhadores aquém dessa variedade linguistica, também, podem ascendem
socialmente.
Terminado os
mitos, ainda é discorrido “o circulo
vicioso que o preconceito linguístico assume” percorrendo desde os livros
didáticos, gramáticos e suas gramáticas normativistas até programas de TV’s com
seus quadros em que o português é paciente agonizante a espera de medicação.
Seguindo o raciocínio, é apresentada “a
desconstrução do preconceito linguístico”, em que, primeiramente, é preciso
reconhecer a crise pela qual o ensino de língua está passando. Depois, adotar
uma mudança de atitude refletindo sobre questões como: o que é ensinar
português? O que é erro? Tudo vale na língua? O que é mais importante em um
texto: os “erros” ortográficos ou o encadeamento lógico das ideias?
Por fim, “o preconceito contra a linguística e os
linguistas” é debatido, inicialmente, atestando a ciência da linguagem uma
importância muito grande. Pois, mesmo antes do cristianismo essa ciência já era
estudada. Em seguida, há reflexões sobre o “português
ortodoxo”, “devaneios de idiotas e
ociosos” e por último: “a quem
interessa calar os linguistas”?
... "no Maranhão usar-se com certa regularidade o pronome “tu”, marcação especifica verbal da segunda pessoa. Mas o mesmo falante por vez esquece-se desse arcaísmo e realiza construções em que o “tu” é substituído por “ti” assumindo a mesma forma do pronome “mim” posposto da preposição para, anteposto de verbo no infinitivo"
ResponderExcluirPerdoe-me o professor, mas arcaísmo não! Se ainda é falado pela grande maioria do povo do Maranhão, ainda está viva a asserção. A ti (poderia ser a ele, a ela) eu digo, e dou-te isso como exemplo. Onde está o erro do que acabei de escrever, caro mestre?
Olá meu caro Ineifran varão. Primeiramente, bem vindo ao blog. Com relação ao seu ponto de vista sobre este post, vc tem razão. O que eu fiz aqui foi um resumo descrevendo esse "mito", que o próprio Marcos Bagno desconstroi em seu livro. No mais muito obrigado por seu comentário
ExcluirEntão, por favor me respondam: porque e a quem interessam calar os linguistas?
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