quarta-feira, 6 de junho de 2018

Reflexões de um escritor



“Escrever é um ócio muito trabalhoso”. Afirmou, certa vez, Goethe. Talvez, não para todos. Uns, na primeira tentativa, conseguem preencher as linhas brancas da folha de papel. Outros, depois de inúmeras tentativas, a única coisa que conseguem é a dor de cabeça. Mas não parece haver tamanha dificuldade em escrever. Como diria Neruda, “escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias”. Logico, que Pablo Neruda simplificou todo o processo de composição textual. Deixou de lado os percalços felizes e, principalmente, penosos que Clarice Lispector fez questão de declarar: “cada vez que eu vou escrever, é como se fosse à primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz”.
 Escrever exige competências de diversas ordens. Mas é fato considerarmos não se tratar de dom divino. É um exercício constante do aprender fazendo. Lembrei-me que quando comprei meu primeiro notebook (na finada loja Yamada, em Santarém) me comprometi que escreveria constantemente. Imaginei-me criando em meu blog um editorial semanal que ao dia determinado postaria ali um texto de assunto relevante do momento. No pensamento seria um Millôr caboclo. Não cumpri com a promessa. Passei a perceber que, no meu caso, os textos não me obedeciam. Controlavam o tempo próprio de gestação. Uns nasciam rebeldes à fecundação de alguma leitura especifica. Outros, ainda que fecundados de leituras e experiências passadas, tardavam numa gestação quase que própria: sem dia e hora exata para nascerem. E ainda existiam outros que, prematuros, sobreviviam somente ao primeiro sinal de pontuação.
A cabeça de quem escreve fervilha constante de muitas produções textuais, que a qualquer momento poderão ganhar vida. Exemplo tem diante de teus olhos, meu caro leitor. Saiba que esse texto por dias foi ruminado e ao passo da primeira linha escrita desviou-se de seu objetivo primeiro e caminhou por linhas próprias.  Intuição? Talvez estivesse apenas adormecido. Quem sabe fruto de leituras e reflexões passadas? Mencionando o passado, lembrei-me da leitura da Odisseia motivada pela grande mestra América Mota, na formação do Propedêutico, no Seminário São Pio X. As aventuras do valoroso Ulisses me motivaram a escrever textos com a essência do herói. De igual maneira, Fabiano, de Vidas Secas. Eis uma das condicionantes para se produzir textos: leitura prévia.
Enfim, que para cada texto ceifado no primeiro parágrafo possa nascer mais dois. Pois, a única coisa que não pode jamais acontecer, para quem escreve, é deixar de escrever.

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