“Escrever
é um ócio muito trabalhoso”. Afirmou, certa vez, Goethe. Talvez, não para
todos. Uns, na primeira tentativa, conseguem preencher as linhas brancas da
folha de papel. Outros, depois de inúmeras tentativas, a única coisa que
conseguem é a dor de cabeça. Mas não parece haver tamanha dificuldade em
escrever. Como diria Neruda, “escrever é fácil: você começa com uma letra
maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias”. Logico,
que Pablo Neruda simplificou todo o processo de composição textual. Deixou de
lado os percalços felizes e, principalmente, penosos que Clarice Lispector fez
questão de declarar: “cada vez que eu vou escrever, é como se fosse à primeira
vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz”.
Escrever exige
competências de diversas ordens. Mas é fato considerarmos não se tratar de dom
divino. É um exercício constante do aprender fazendo. Lembrei-me que quando
comprei meu primeiro notebook (na finada loja Yamada, em Santarém) me comprometi
que escreveria constantemente. Imaginei-me criando em meu blog um editorial
semanal que ao dia determinado postaria ali um texto de assunto relevante do
momento. No pensamento seria um Millôr caboclo. Não cumpri com a promessa.
Passei a perceber que, no meu caso, os textos não me obedeciam. Controlavam o
tempo próprio de gestação. Uns nasciam rebeldes à fecundação de alguma leitura
especifica. Outros, ainda que fecundados de leituras e experiências passadas,
tardavam numa gestação quase que própria: sem dia e hora exata para nascerem. E
ainda existiam outros que, prematuros, sobreviviam somente ao primeiro sinal de
pontuação.
A cabeça de quem
escreve fervilha constante de muitas produções textuais, que a qualquer momento
poderão ganhar vida. Exemplo tem diante de teus olhos, meu caro leitor. Saiba
que esse texto por dias foi ruminado e ao passo da primeira linha escrita
desviou-se de seu objetivo primeiro e caminhou por linhas próprias.
Intuição? Talvez estivesse apenas adormecido. Quem sabe fruto de leituras e reflexões
passadas? Mencionando o passado, lembrei-me da leitura da Odisseia motivada
pela grande mestra América Mota, na formação do Propedêutico, no Seminário São
Pio X. As aventuras do valoroso Ulisses me motivaram a escrever textos com a
essência do herói. De igual maneira, Fabiano, de Vidas Secas. Eis uma das
condicionantes para se produzir textos: leitura prévia.
Enfim, que para cada
texto ceifado no primeiro parágrafo possa nascer mais dois. Pois, a única coisa
que não pode jamais acontecer, para quem escreve, é deixar de escrever.
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