Você
se considera um fotógrafo? O tópico frasal desse texto nos parece ser bem
reflexivo se voltarmos o nosso olhar para um mundo cada vez mais preocupado em
fotografar e se autorretratar. Prova disso, é a procura desenfreada por
Smartphones com câmeras de resoluções cada vez mais altas (que coisa, hoje o
celular parece ter perdido sua função primordial), cujo produto final visa mimetizar,
na vida virtual, a felicidade aparente, principalmente, no momento de produção
da famigerada selfie nossa de cada dia. Se por um lado, existe essa crescente
onda de retratar e se autorretratar, por outro, a fotografia tem sido
banalizada com os sucessivos aplicativos de celulares que prometem fotos
extraordinárias bastando para tal um único toque na tela. Pois, nesses casos, o
aplicativo age como a câmara escura.
Mas
entre fotos e retratos há mais mistérios do que entre o céu e a terra. Se
enquanto a fotografia é utilizada como ação de registro do momento, captura do
real momentâneo, mimetismo artístico de uma realidade, ou ainda enquanto
correspondência com as demais artes podemos entender o comportamento do fotógrafo
a partir das ideias de um Barthes, Brassai, Dubois ou até mesmo, de um Proust.
Mas quando o agente fotográfico se autorretrata a coisa muda de figura. Nesse
caso já não olhamos mais a imagem fotografada pelos olhos de quem a fotografou.
E sim, pelo reflexo da própria câmera frontal do celular. Como nesses casos o
que menos importa é a captura artística imagética do instantâneo, já que se
trata de uma representação do próprio eu, o “fotógrafo” age em desconforme os
adjetivos fotográficos. Para entender esses casos, só mesmo pedindo ajuda a
Freud.
Mas
voltemos a nossa indagação oriunda dessa tentativa de dissertar sobre
foto(grafias): você, caro leitor, se considera um fotógrafo? E como se a própria
pergunta já não fosse o suficiente é preciso saber que tipo de fotógrafo, nosso
leitor, se identifica.
Excluindo
o profissional temos o amador, o que fotografa por hobby, o que simplesmente
clica aqui ou acolá, e até mesmo, aquele que renega a si o título de fotógrafo
(mesmo registrando o cotidiano). Mas ainda sim, entraríamos num outro debate: o
que de fato nos faz pertencer a tal categoria de fotógrafos. E mais... falando
sobre o produto final dos processos químicos da câmara escura, ou publicação
virtual, o que seria uma boa foto? E o que seria uma boa selfie? Questões que a
primeira vista não fariam tanto sentido. Mas se as interpretarmos do ponto de
vista da necessidade do “se sou visto; logo existo” criada
pela virtualidade social podemos enquadrá-las nas reflexões de entendimento do
comportamento humano.
Enfim,
cada um merece as fotos que tem. Sejam elas de celular, smartphones, ou DSLR´s.
E como não podemos definir o padrão de belo e feio nas fotos expostas, já que
isso é responsabilidade do olhar do espectador, curtamos, então, aquelas que
despertam em nós a sensibilidade de se emocionar frente uma imagem.
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