Em História de um Pescador, como o próprio título já sugere, temos a difícil
vida do pescador José narrada. Bem como definiu Vicente Salles: “trata-se da luta do tapuio José, contra a
exploração do capitão Fabrício, pelo endividamento progressivo e submissão aos
seus caprichos de chefe político e grande proprietário de terras”.
Ocorre que, o personagem José,
fora estudar no colégio de S. Luiz Gonzaga, em Óbidos, tendo o seu pai sido
convencido pelo vigário da necessidade de ensinar alguma coisa ao curumim. Mas como
não fora por vontade própria a ida de José para o colégio, o mesmo sofria com a
distância e o modo de vida a que estava acostumado no sítio. Esta sofrível vida
perdurou por quatro anos. Até que um dia, a mãe o fora visitar para
anunciar-lhe a notícia da morte do pai, Anselmo Marques, tapuio pescador do Igarapé
de Alenquer. Que morrera afogado em uma viagem que fizera a Santarém por ordem
do capitão Fabrício Aurélio.
Com a trágica notícia da
morte do pai, José retorna ao sitio que fora de Anselmo Marques, numa das
margens do Igarapé de Alenquer, quase ao sair no Paraná-Miri de Baixo (de
Óbidos). Volta não mais para viver a sua vida na liberdade que o sítio lhe
proporcionava, mas para viver uma vida servil ao capitão Fabrício.
A obra inglesiana aborda
não apenas a constituição física paisagística do amazonas. Mas, principalmente,
as relações sociais estabelecidas na Amazônia quando da época da escrita das
obras. E essa, sobre um dos aspectos dessas relações que o livro aqui tratado
fala: a servidão por dívida.
José ficara sabendo que
herdara uma dívida contraída pelo pai, e que esta devia ser paga a qualquer
custo para o capitão Fabrício. Desse momento em diante o personagem central
sabia que a liberdade que ele tanto almejava retomar não seria tão simples
assim. Ou ele pagava a dívida do pai, ou se tornaria escravo do capitão.
Capitão Fabrício, rico proprietário,
simboliza a figura do rico. É aquele que domina, manda. Enquanto que José era
um pobre coitado preso às terras do capitão por uma dívida que nem ele mesmo
sabia se de fato era verdadeira. E se ainda fosse, se seria de fato obrigado a
pagá-la. Mas verdade mesmo é que ele se tornou um escravo dessa dívida. Por mais
que trabalhasse para pagá-la, em honra da memória do pai, nunca diminuía. Sempre
mais e mais era obrigado a trabalhar. É nessa relação de poder, de dominação,
desfavorável ao pequeno habitante daquelas paragens é que a maestria do traço
literário de Inglês de Souza ganha destaque.
A narrativa navega por
descrições amazônicas, destaque para a cidade de Óbidos, e uma parte especial
sobre Alenquer. E dentro dessas descrições acontecem os fatos da trama. Vale frisar
que o capitão tomou José como seu. Até a mulher escolhida por José o capitão fez
de tudo para tomá-la: desde emboscadas, perseguições, sequestro até culminar
num duelo entre as “montarias” no rio
com José sendo ferido gravemente. Por fim, o capitão Fabrício a tomou como sua
levando-a para sua fazenda. José que havia sido ferido, na cabeça de joaninha,
estava morto e por isso esta “entregou-se” ao capitão. O desfecho da narrativa
acaba, ou não, com um duelo entre os dois homens. José dispara um tiro contra
com o capitão.
O livro, como muitos
pesquisadores afirmam, não tem fim. Até mesmo Inglês de Souza deixa a entender
isso no prefácio. Além disso, é possível dizer que a escrita do livro
assemelha-se a um borrão a espera da versão definitiva pela grande quantidade
de “erros” ortográficos.
No mais, vale muito a
leitura para entender um passado ainda muito presente na vida dos amazônidas.
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