Primeiramente,
a fotografia na sua origem, foi tida como arte menor, ou até mesmo,
desconceituada de adjetivos artísticos por grande parte dos artistas da época.
Isso se dava ao fato de que ela apenas reproduzia a realidade de maneira
mecânica, sendo o fotógrafo apenas um observador de todo o processo, como citou
Baudelaire. Mas o próprio Baudelaire desejou ter o retrato de sua mãe como
confessou em carta dirigida a ela em 1865: “eu
gostaria muito de ter teu retrato (...) existe um fotógrafo excelente no
Havre.” Isso mostra que eternizar a pessoa, o momento por meio de fotos não
é uma prática do agora. Mas a importância que hoje se dá para a fotografia só
começou a ganhar vida recentemente graças aos trabalhos de Walter Benjamim, na
Alemanha e Roland Barthes, na França. É importante dizer que nessa época as
famílias davam uma importância muito grande para o momento do registro. Havia o
dia de ir ao fotógrafo como nos conta Brassai em Proust e a Fotografia: “ir ao
fotógrafo era um processo complicado e os preparativos, quase que tão
complicados quanto o condicionamento de um paciente para uma operação
cirúrgica. Trajes especiais, penteados sofisticados eram debatidos em família.
Não contentes com se endomingar antes de posar solenemente para a posteridade,
ornamentavam-se com verdadeiras fantasias, chapéus, etc.; nunca antes usados ou
que jamais seriam depois (...)”. Momento quase que semelhante vivemos na
época da câmera de filme analógico em que, pela impossibilidade de se ver a
foto antes da revelação, tinha-se o maior cuidado em se posar corretamente
diante da máquina.
Feita
essa pequena explicação histórica do modo como se concebia o registro
fotográfico voltemos a nossa reflexão. Vemos que a essência do instante
contínuo fotográfico permanece quase a mesma: a captura de parte de uma
realidade. No entanto, o objetivo que cada “tirador” de fotos tem é que será
capaz de responder por que fotografamos tanto.
Não
raro, vemos fotos de fotos de pessoas que registraram um incêndio, ou acidente
sem que os registros lhes servissem muito. Apenas se fizeram do momento e,
click. Talvez a autoafirmação de onde estou e o que estou fazendo. Já para
fotógrafos profissionais, e até mesmo alguns amadores, a fotografia é expressão
de sua cultura. É levar a outros olhos, o que os olhos por trás das lentes
viram. Para estes, a exemplo de Barthes, uma foto pode ser objeto de três
práticas: fazer, suportar, olhar. Mesmo estes
não fotografam somente como expressão do seu trabalho. Muitas vezes, saem a
clicar paisagens e cotidianos urbanos. Igualam-se,
em certos momentos, aqueles que tudo fotografam e usam essas imagens para
confirmar a realidade e para realçar a experiência por meio de um consumismo estético,
como nos diz Susan Sontag.
Tirar
fotos é um evento em si mesmo. É um ato dotado de subjetivismo. Tanto a
fotografia amadora, ou profissional constitui um recorte do momento, uma
interpretação de mundo. Parafraseando Mallarmé que disse que tudo no mundo
existe para terminar num livro. Hoje, não temos dúvidas de que tudo existe para
terminar numa foto. Resta-nos apenas saber por que todo ato vivido queremos
transformá-lo em imagem-fotográfica.
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