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- “Navegar é preciso, viver não é preciso; Viver não é necessário; necessário é criar”./ “Tornar minha vida grande, ainda que o meu corpo tenha de ser lenha desse fogo”.
“Como
empurrado contra o mar, toda a sua história (de Portugal), literária
e não, atesta o sentimento de busca dum caminho que só ele
representa e pode representar” (MOISÉS, 2004:13). Prova disso, são
os versos pessoanos de que “Navegar
é preciso, viver não é preciso”.
Ora, esse verso somado a “Tornar
minha vida grande, ainda que o meu corpo tenha de ser lenha desse
fogo”, também
inserem a arte a partir do ponto de vista do existencialismo. Ainda
segundo MOISÉS (2004:178) agora no seu Dicionário de Termos
Literários, o Existencialismo enquanto corrente filosófica
dirigi-se para a essência
do individuo.
E enquanto elemento empregado na arte literária centra-se
a sua atenção no desvendamento da existência.
Fernando
Pessoa expressa claramente essas afirmações nos versos já citados.
Ele próprio, enquanto poeta, buscou esse existencialismo (fuga de
si) sendo um e ao mesmo tempo muitos ao criar dentro de si outros
“eus”
(heterônimos).
Em
“Navegar é preciso, viver não é preciso; Viver não é
necessário; necessário é criar”. Essa arte aqui comentada pode
simbolizar a busca de uma existência. Com relação a navegação
ela vinha em primeiro plano para Portugal à época. A partir dela a
vida se descobria. Navegar por si só já era viver. E se viver era
navegar, levar uma vida longe dos desafios da navegação não tinha
importância. Importante sim era criar.
Já
no segundo verso, “Tornar
minha vida grande, ainda que o meu corpo tenha de ser lenha desse
fogo”
Pessoa expressa o que é muito próprio de sua poesia: a presença do
próprio eu em busca de indagações sobre a própria vida. É a arte
de criar a partir da corrente existencialista. “(...)
Ainda que o meu corpo tenha de ser lenha desse fogo”
o poeta é o próprio eu: ao mesmo tempo em que é fogo, também é
lenha. O eu poético alimenta-se de si mesmo. Busca por uma indagação
paradoxal que em ao mesmo tempo em que é não é.
- O tema cidade no poema Tabacaria relacionado à estética pessoana.
Em
Tabacaria, poema de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando
Pessoa) o tema cidade permeia todo o poema. Isso se deva por ter sido
construído por um poeta cuja profissão é de engenheiro. Mas não é
somente como engenheiro que Álvaro de Campos descreve o mundo que o
circunda, mas como “poeta moderno, século XX, que do desespero
extrai a própria razão de ser e não foge a sua condição de homem
sujeito a maquina...” (MOISÉS, 2004:244).
Como
poeta que é, em Tabacaria deixa de lado o olhar matemático de
engenheiro e lança em muitos versos a literariedade em que expressa
a condição do homem da época inserido num progresso emergente das
cidades. “Janelas
do meu quarto”
em que o autor observa o vai e vem da cidade. Aliás, a janela até
hoje, em muitas localidades, é por onde se observa o movimento dos
forasteiros e as atividades vizinhas. “Com
o destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada”.
“A
fileira de carruagens de um comboio e uma partida apitada”.
Este último verso simboliza perfeitamente o tema cidade. É um
anúncio do crescimento citadino; da efervescência das cidades. É
só lembrar que essa mesma aglomeração de carruagens evoluiu para
as aglomerações que hoje presenciamos. E que hoje “a
partida apitada”
acontece até nos portos de nossa Amazônia.
- O Existencialismo no poema Tabacaria de Álvaro de Campos
No
poema Tabacaria, de Álvaro de Campos temos aí a corrente filosófica
a que se chamou de
Existencialismo
e que a arte utilizou para o desvendamento da existência humana.
Em
Tabacaria, conforme destaca SARAIVA e LOPES (2001:1000) “o espírito
reflexivo de Pessoa, acaba, em certos momentos, por desvalorizar a
sua própria razão humana”. Isso, logo desde o inicio do poema:
“Não
sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada...”.
Importante lembrar que embora Álvaro de Campos não seja o próprio
Pessoa, mesmo assim a luta interna pelo desvendamento da condição
existencial do ser também lhe é característica. Essa afirmação
de ser nada (vazio) e ao mesmo tempo de que nunca será nada e de que
também não pode ser nada converge para um paradoxo que só mesmo
uma reflexão existencialista poderá dar cabo de uma resposta. A
mesma ideia apresentada nos versos: “Que
sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?/ Ser o que penso? Mas
penso ser tanta coisa!”.
Esses versos configuram “uma terrível estranheza de existir, um
acordar para a misteriosa importância de existir, que preludia o
existencialismo de meados do século” (SARAIVA & LOPES 2001:
1000) a poesia pessoana.
Ainda
em Tabacaria temos um verso que explora magistralmente o conceito
existencialista na poesia de Fernando Pessoa: “Com
o destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada”.
Nesse
verso vemos o dilema conflituoso existencial do eu. Pessoa age assim
como o filósofo Sartre em seu livro “O Ser e o Nada”. Mas
Fernando Pessoa, como já citei, busca uma resposta a essa existência
paradoxal. Pois, ao mesmo tempo em que o tudo é tudo ele se faz em
nada. E o destino, personagem responsável por muitas de nossas
indagações, é o condutor principal dessa vida existencialista.
nesse poema, o eu lírico prática metáfisica?
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