De
autoria de José Maria Eça
de Queirós,
O Primo Basílio é uma “fotografia” que revela a falsa moral
presente nas famílias, aparentemente, de bem da sociedade burguesa
de Portugal. Narrado em terceira pessoa, o tema central do livro é a
infidelidade amorosa cometida por Luísa para com seu marido Jorge. O
grande amante dessa situação é Basílio primo de Luísa, e que no
passado foram amantes juvenis. Além da infidelidade, essa relação
proibida dos amantes, gera uma ação de chantagem por parte da
criada Juliana.
O
enredo
Como
já citado, a trama gira em torno do ato de traição que Luísa,
esposa de Jorge, realiza com seu primo Basílio. Embora o casal Jorge
e Luíza levasse uma vida feliz perante aos olhos da sociedade, a
monotonia desgastava a relação dos dois. O que abriu portas para a
infidelidade de Luíza, já que não se sentia mais amada e
completada pelo homem com quem dormia. Aliás, na descrição que o
próprio Eça de Queiróz faz na carta a Teófilo Braga, Luísa é "a
burguesinha da Baixa"
(Lisboa, Cidade Baixa): urna
senhora sentimental, sem valores espirituais ou senso de justiça.
“É
lírica e romântica, ociosa e nervosa pela falta de exercício e
disciplina moral”. E
como diz o velho ditado: quando não se encontra em casa, procura-se
na rua. Luísa foi buscar nos braços do primo o amor que lhe
faltava. Basílio envia uma carta à prima dizendo de sua chegada.
Logo que chega visita à prima na ausência de Jorge e percebe a
fragilidade sentimental que a prima estava passando. Logo depois de
uma nova visita Luíza entrega-se de corpo e alma ao primo. Os
encontros fortuitos tornam-se quase que diários, até a criada
Juliana começar a desconfiar do ato infiel. A criada consegue uma
carta que Luíza entregaria ao amante e a partir daí começa um jogo
sórdido de chantagem. Por fim, Jorge descobre por ventura as
aventuras infiéis que sua mulher cometia desfechando o romance numa
tragédia romântica que bem já conhecemos.
Mas
todo esse enredo, todos esses personagens simbolizam muito para o
entendimento da obra. Uma das características do Realismo é a
critica a sociedade, ao caráter anticlerical. Tudo isso por meio do
comportamento humano. E que exemplo melhor Eça de Queirós poderia
nos proporcionar ao narrar à sedução e adultério dentro de uma
família “exemplo de fidelidade, da boa moral e dos bons costumes”?
As personagens em O Primo Basílio representam a tipificação do
homem. Com aparições, no romance, sua presença se faz sentir pelo
papel social que representa: é o marido. E a forma como poderá
reagir à infidelidade, é especulada pelo narrador através, de
outro personagem, Ernestinho , autor medíocre que prepara uma peça
teatral sobre um caso de adultério, pede a Jorge uma opinião sobre
o final de sua obra. Um marido deve matar a mulher adúltera? Luíza,
o motivo que a leva a se entregar a Basílio, de acordo com as
reflexões de Eça, nem ela sabia. Uma mescla da falta do que fazer
com a "curiosidade mórbida em ter um amante, mil vaidadezinhas
inflamadas, um certo desejo físico...". Já Basílio, em
momentos de maior dramaticidade, quando começam a enfrentar as
consequências do adultério, o seu cinismo fica mais evidente: ele
pensa apenas que teria sido mais vantajoso trazer consigo uma amante
de Paris. Juliana se conduz pela revolta (não suporta sua condição
de serviçal), pela frustração (fracassou na tentativa de mudar de
vida), pelo ódio rancoroso contra a patroa (ódio, na verdade,
contra todas as patroas que a escravizaram por 20 anos).
Segundo
palavras do próprio autor, o Romantismo "...
em lugar de estudar o homem, inventava-o. Hoje o romance estuda-o na
sua realidade social. (...) Toda a diferença entre o Idealismo e o
Naturalismo está nisto. O primeiro falsifica, o segundo verifica".
Em O Primo Basílio o homem é observado como um animal: suas ações
não são frutos de sua vontade, mas parece derivar de um
determinismo que está aquém dele. Vemos isso na figura da criada
Juliana que tem suas ações justificadas pela vida que levou.
Outra
característica realista presente na obra é maneira descritiva das
ações e espaços em que os personagens estão inseridos.
Diferentemente do Romantismo em que o ato descritivo dispensava os
por menores, no Realismo a descrição é feita amiúde. O autor
procura nos colocar dentro da ação descrita, pois tamanha é a
riqueza de detalhes. O que também se diferencia do Romantismo, é
“contaminação” dos personagens até mesmo o protagonista. Luíza
não é pura, fiel, obediente como Joaninha. Espelha o que há de
pior numa esposa: a infidelidade amorosa.
Por
fim, o livro inova a criação literária da época, oferecendo uma
crítica demolidora e sarcástica dos costumes da pequena burguesia
de Lisboa. Eça de Queirós ataca uma das instituições consideradas
das mais sólidas: o casamento. Com personagens despidos de virtude,
situações dramáticas geradas a partir de sentimentos fúteis e
mesquinharias, lances amorosos com motivações vulgares e medíocres
- tudo isso, ao mesmo tempo em que ataca, desperta o interesse da
sociedade de Lisboa. Eça de Queirós explora o erotismo quando
detalha a relação entre os amantes. Inova também ao incluir
diálogos sobre homossexualismo.
Referências
bibliográficas
QUEIRÓZ, Eça de. O
Primo Basílio. 1°ed. São Paulo: Martin Claret, 2007.
MOISÉS, Massaud. A
literatura portuguesa. 33°ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.
muito bom professor
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