segunda-feira, 18 de março de 2013

Análise da obra O Primo Basílio, de Eça de Queirós

De autoria de José Maria Eça de Queirós, O Primo Basílio é uma “fotografia” que revela a falsa moral presente nas famílias, aparentemente, de bem da sociedade burguesa de Portugal. Narrado em terceira pessoa, o tema central do livro é a infidelidade amorosa cometida por Luísa para com seu marido Jorge. O grande amante dessa situação é Basílio primo de Luísa, e que no passado foram amantes juvenis. Além da infidelidade, essa relação proibida dos amantes, gera uma ação de chantagem por parte da criada Juliana.
O enredo
Como já citado, a trama gira em torno do ato de traição que Luísa, esposa de Jorge, realiza com seu primo Basílio. Embora o casal Jorge e Luíza levasse uma vida feliz perante aos olhos da sociedade, a monotonia desgastava a relação dos dois. O que abriu portas para a infidelidade de Luíza, já que não se sentia mais amada e completada pelo homem com quem dormia. Aliás, na descrição que o próprio Eça de Queiróz faz na carta a Teófilo Braga, Luísa é "a burguesinha da Baixa" (Lisboa, Cidade Baixa): urna senhora sentimental, sem valores espirituais ou senso de justiça. “É lírica e romântica, ociosa e nervosa pela falta de exercício e disciplina moral”. E como diz o velho ditado: quando não se encontra em casa, procura-se na rua. Luísa foi buscar nos braços do primo o amor que lhe faltava. Basílio envia uma carta à prima dizendo de sua chegada. Logo que chega visita à prima na ausência de Jorge e percebe a fragilidade sentimental que a prima estava passando. Logo depois de uma nova visita Luíza entrega-se de corpo e alma ao primo. Os encontros fortuitos tornam-se quase que diários, até a criada Juliana começar a desconfiar do ato infiel. A criada consegue uma carta que Luíza entregaria ao amante e a partir daí começa um jogo sórdido de chantagem. Por fim, Jorge descobre por ventura as aventuras infiéis que sua mulher cometia desfechando o romance numa tragédia romântica que bem já conhecemos.
Mas todo esse enredo, todos esses personagens simbolizam muito para o entendimento da obra. Uma das características do Realismo é a critica a sociedade, ao caráter anticlerical. Tudo isso por meio do comportamento humano. E que exemplo melhor Eça de Queirós poderia nos proporcionar ao narrar à sedução e adultério dentro de uma família “exemplo de fidelidade, da boa moral e dos bons costumes”? As personagens em O Primo Basílio representam a tipificação do homem. Com aparições, no romance, sua presença se faz sentir pelo papel social que representa: é o marido. E a forma como poderá reagir à infidelidade, é especulada pelo narrador através, de outro personagem, Ernestinho , autor medíocre que prepara uma peça teatral sobre um caso de adultério, pede a Jorge uma opinião sobre o final de sua obra. Um marido deve matar a mulher adúltera? Luíza, o motivo que a leva a se entregar a Basílio, de acordo com as reflexões de Eça, nem ela sabia. Uma mescla da falta do que fazer com a "curiosidade mórbida em ter um amante, mil vaidadezinhas inflamadas, um certo desejo físico...". Já Basílio, em momentos de maior dramaticidade, quando começam a enfrentar as consequências do adultério, o seu cinismo fica mais evidente: ele pensa apenas que teria sido mais vantajoso trazer consigo uma amante de Paris. Juliana se conduz pela revolta (não suporta sua condição de serviçal), pela frustração (fracassou na tentativa de mudar de vida), pelo ódio rancoroso contra a patroa (ódio, na verdade, contra todas as patroas que a escravizaram por 20 anos).
Segundo palavras do próprio autor, o Romantismo "... em lugar de estudar o homem, inventava-o. Hoje o romance estuda-o na sua realidade social. (...) Toda a diferença entre o Idealismo e o Naturalismo está nisto. O primeiro falsifica, o segundo verifica". Em O Primo Basílio o homem é observado como um animal: suas ações não são frutos de sua vontade, mas parece derivar de um determinismo que está aquém dele. Vemos isso na figura da criada Juliana que tem suas ações justificadas pela vida que levou.
Outra característica realista presente na obra é maneira descritiva das ações e espaços em que os personagens estão inseridos. Diferentemente do Romantismo em que o ato descritivo dispensava os por menores, no Realismo a descrição é feita amiúde. O autor procura nos colocar dentro da ação descrita, pois tamanha é a riqueza de detalhes. O que também se diferencia do Romantismo, é “contaminação” dos personagens até mesmo o protagonista. Luíza não é pura, fiel, obediente como Joaninha. Espelha o que há de pior numa esposa: a infidelidade amorosa.
Por fim, o livro inova a criação literária da época, oferecendo uma crítica demolidora e sarcástica dos costumes da pequena burguesia de Lisboa. Eça de Queirós ataca uma das instituições consideradas das mais sólidas: o casamento. Com personagens despidos de virtude, situações dramáticas geradas a partir de sentimentos fúteis e mesquinharias, lances amorosos com motivações vulgares e medíocres - tudo isso, ao mesmo tempo em que ataca, desperta o interesse da sociedade de Lisboa. Eça de Queirós explora o erotismo quando detalha a relação entre os amantes. Inova também ao incluir diálogos sobre homossexualismo.

Referências bibliográficas
QUEIRÓZ, Eça de. O Primo Basílio. 1°ed. São Paulo: Martin Claret, 2007.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. 33°ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.


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