Partindo
do estudo epistemológico do termo, temos inicialmente, Épica –
Lat. epicus,
heroico, do gr. epikós;
épos,
palavra, narrativa, poema, recitação. (Dicionário de Termos
Literários, Massaud Moisés, 2004).
A
Poesia Épica ganha um estudo classificatório com o grego
Aristóteles que na sua Arte
Poética
definiu esse gênero pelo meio de sua imitação (mimeses). Assim,
classificou-o como a imitação narrativa
metrificada.
Vale apena ressaltar que, também, Platão faz menção a esse tipo
de poesia quando classifica, em simples narrativa, a imitação que o
poeta faz quando tenta passar-se por outra pessoa que não seja ele
próprio: é
o próprio poeta que fala e não tenta voltar o nosso pensamento para
outro lado, como se fosse outra pessoa que dissesse, e não ele.
Com
Aristóteles, o estudo da poesia épica centra-se mais no estudo
comparativo com a tragédia. Tanto que ele próprio afirma que:
“A
epopéia deve apresentar ainda as mesmas espécies que a
tragédia: deve ser simples ou complexa, ou de caráter, ou patética.
Os elementos essenciais são os mesmos, salvo o canto e a encenação;
também são necessários os reconhecimentos, as peripécias e os
acontecimentos patéticos. Deve, além disso, apresentar pensamentos
e beleza de linguagem. (Arte Poética, 2007).
Se
a concepção grega de poesia épica centralizou-se mais na concepção
filosófica da mimésis, o estudo mais recente está voltado para a
composição estilística da poesia. Assim Salvatore D´Onofrio, além
de trazer a epistemologia do termo, procura detalhar o que realmente
caracteriza a poesia épica:
“A
poesia épica é a primeira forma culta de civilização ocidental.
as narrações míticas e lendárias, que a imaginação popular foi
criando a partir de um acontecimento histórico, após a fase de
transmissão oral, quando o povo chega a dominar o alfabeto e a ter
uma língua ou dialetos escritos, são elaboradas por um poeta que
lhes dá uma veste literária e as consagra para sempre”. (teoria
do texto 01, 2002).
É
justamente essa narrativa oral, transmitida de gerações a gerações
que se originaram as lendárias epopéias. Aqui cabe destacar a
figura do poeta conhecido então como rapsodo
(costureiro) o grande responsável por copilar as narrativas orais. É
importante salientar que o poeta não cria, mas apenas concretiza uma
narrativa oral criada pelo próprio povo (epopéia natural). Temos os
exemplos da Ilíada e Odisseia atribuídas a Homero. Ambas destacam
as ações titânicas de valentes guerreiros.
Já
para Emil Staiger, Conceitos
fundamentais da poética,
o estudo desse gênero de poesia define-se pelo modo de como o poeta,
que tudo contempla, apresenta os fatos narrados sem se deixar
envolver pelo estado emotivo das personagens:
“O
poeta dirige a vista de preferência para fora – também aqui há
um mundo exterior como interior – e observa o que se apresenta a
seus olhos como bens incalculáveis de vida: armas guerreiros,
movimentos de batalhas, terras e homens maravilhosos, o mar a praia,
animais e plantas... diz-se o que é característico de deuses, de
homens, de todas as coisas. Com isso abrem-se os olhos dos ouvintes
para contemplar a vida em sua plenitude diversificada”.
O
poeta traz presente o passado e faz próximo o que na verdade é
distante. Não se quer dizer que ele recorda-o como faz o poeta
lírico, mas rememoriza-o deixando bem definidos o afastamento
temporal e espacial diante dos fatos lembrados.
Quando
o poeta se distancia dos fatos de forma alguma se deve pensar que ele
desapareça por de trás da historia. Pelo contrário: “ele
se deixa notar nitidamente como narrador. Dirigi-se as musas. Não
raro interrompe um relato para intercalar uma observação ou um
pedido aos céus”.
(pg, 78)
Até
agora notamos o caráter conceitual da poesia épica. Mas o que
realmente define essa espécie de poesia é o seu caráter
estrutural. É na forma da poesia que podemos encontrar as definições
teóricas aqui já citadas. Então, passaremos aos caracteres
estilísticos da poesia épica:
- O tempo narrativo: no épico temos todas as ações narradas pelo autor no tempo pretérito. Em alguns casos quando o autor dá a ideia de presente, trata-se na verdade do presente histórico.
- O tema: aborda os acontecimentos de um passado longínquo como no caso da Ilíada e Odisséia, que para Homero já eram bem distantes. Ou de um passado mais próximo. Neste último citamos o caso de Os Lusíadas que para Camões, a narrativa de Vasco da Gama era mais próxima de seu tempo em comparação com a Ilíada e Odisseia para Homero.
- A metrificação: para o antigo período grego admitia-se o verso Hexâmetro.
- A proposição: a poesia épica é composta de uma parte introdutória, que antecipa o assunto que será tratado. Isso é facilmente observado na Ilíada e Odisséia no inicio de cada canto.
- A invocação: trata-se de um pedido de ajuda a divindade: “Canta-me, ó deusa, do Pelejo Aquiles/ A ira tenaz, que, lutuosa aos Grego...”. (A Ilíada, Livro I, pg, 01)
- A Grandiloqüência: o autor Eduardo Portela, na sua obra Teoria Literária, define bem essa característica:
“A
imitação de Homero, toda epopéia digna deste nome deve dispor de
alta cota de episódios espetaculares, batalhas sangrentas, exaltação
dos heróis sobre-humanos em luta contra a fortuna, todo um arsenal
de grandiosidade, em estilo grandiloqüente e retumbante”. (pg,
109)
- A presença do Maravilhoso Pagão ou Cristão: uma das características mais marcantes e inerentes a poesia lírica, sem dúvida é a manifestação ou presença das divindades no seio do convívio humano. Logo no inicio da Odisseia temos perfeitamente um exemplo disso quando os deuses reunidos no Olimpo discutem a sorte do sagaz Ulisses:
“(...)
depois falou
Atenéia, com os brilhantes olhos cintilando: (...) que se passa,
porém, com o sagaz Ulisses? Desventurado, abandonado a própria
sorte pelos amigos... Zeus, respondeu? Como poderia eu me esquecer
daquele bravo Ulisses? Ele é quase um de nós. Poseidon, porém,
tem-lhe ódio implacável, por causa do ciclope cujo olho vazou”.
(A Odisséia, Livro I, pg 15).
BIBLIOGRAFÍA
MOISÉS,
Massaud. Dicionário
de Termos Literários.
12ed, São Paulo: Cultrix, 2004.
PORTELA,
Eduardo. Teoria
Literária.
3ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1979.
D’ONOFRIO,
Salvatore. Teoria
do texto 1.
2ed. São Paulo: Editora Ática, 2002.
STAIGER,
Emil. Conceitos
Fundamentais da Poética.
3ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
ARISTÓTELES.
Arte
Poética.
São Paulo: Martin Claret, 2007.
PLATÃO.
A
República.
São Paulo: Martin Claret, 2007.
HOMERO.
A
Ilíada.
São Paulo: Martin Claret, 2007.
HOMERO.
A
Odisséia.
Ediouro.
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