Como
combinado, a aula naquele dia seria sobre o estudo do adjetivo. A
professora, dona Marisó, sexagenária, gorda de respiração
ofegante, cabelos mal cuidados, dentes amarelados, usando óculos
quase maiores que a sua face e roupas engraçadas pôs-se lentamente
a entrar na sala. Entrando, sentou-se na mesma proporção. Em
seguida conferiu os presentes e chamou-os a atenção em relação ao
barulho. Pegou o giz com certa dificuldade. Ergueu-o até certa
altura do quadro chegando a ficar a um passo de precisar firmar-se na
ponta dos pés. O quadro era antigo. Possuía muitas deformidades
devido às inúmeras goteiras do telhado. Terminado o exercício de
apoiar o giz no quadro, a professora rabiscou:
Assunto
de hoje: o que é o adijetivo?
Em
seguida iniciou a explicação:
_Prestem
atenção e olhem aqui pro quadro. Damos o nome de adijetivo para o
nome que dá uma qualidade para o substantivo. Vejam a frase: Pedro é
preguiçozo. Qual é a qualidade de Pedro:
_Preguiçoso.
Responde a turma.
Porém,
Joãozinho encafifado com a explicação lacônica da professora,
quis melhor entender o adjetivo:
_Professora,
então preguiçoso é uma qualidade?
_Não
faça perguntas compricadas meninu. Quem é o professor aqui eu ou
você?
O
menino quis mais uma vez intervir a professora. O sinal da campainha,
no entanto, tocou nesse exato momento. Todos os alunos correram em
disparada para a porta de saída.
Joãozinho
foi direto para casa. Entrou no quarto e jogou num canto qualquer sua
sacola com os cadernos. Foi caminhando para a cozinha merendar as
sobras do almoço. Na cozinha estavam seu pai Vardemar e seu padrinho
Maraca. Este perguntou ao afilhado o que queria ser quando crescer.
O pequeno respondeu com o conhecimento obtido em sala de aula naquela
manhã:
_Eu
quero ser um grande homem cheio de qualidades.Eu quero ser muito
preguiçoso!
_Mas
que heresia é essa, muleque! Priguiça não é qualidade de homi da
colônia e nem de homi nenhum. Esbravejou o pai. “Quem ta te
ensinando essas burrici...”
_Foi
na escola pai.
_É
cumpade Maraca o insino de antigamente que era bom. Que menino
aprendia era na parmatória contente da vida...
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