quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Análise do Livro: A Prisioneira, de Marcel Proust

1)    Por uma definição de ciúme.
Dizem que aquele que ama também sente ciúme. Ou se não sentisse , não amaria. Em Proust temos, inicialmente, o ciúme como algo muito além de um sentimento de quem ama ou é amado. Na obra “o ciúme nada mais é muitas vezes do que uma inquieta necessidade de tirania aplicada às coisas do amor”. Assim Marcel era um tirano diante do amor que sentia por Albertine.
(...) Interminável é assim o ciúme, pois mesmo se o ente amado, tendo morrido, por exemplo, não o pode mais provocar pelos seus atos, acontece que reminiscências posteriores a qualquer fato se comportam de repente em nossa memória como tantos outros fatos, reminiscências que não havíamos esclarecido ate então, que nos tinham parecido insignificantes e as quais basta que reflitamos sobre elas, sem nenhum evento exterior, para lhe darmos um sentido novo e terrível. (A Prisioneira, pg 79)
É esta a ideia que podemos atribuir ao ciúme que o narrador sente por Albertine: ciúme interminável. Podemos dizer que esse sentimento, amor sentido por ele, faz do ser amado ou amada, já não mais uma companheira e sim um objeto de posse que não pode ser perdido de vista se quer por um instante. Nasce assim o ciúme que aprisiona.

2)    O Ciúme que aprisiona.
Marcel tem um medo colossal de perder Albertine. Sente medo de uma possível traição, por isso procura saber de todos os passos de sua amada. Só se sente seguro quando está próximo a cama de Albertine e a vê mergulhada em um sono profundo. É devido a essa obsessão que Albertine vive enclausurada; refém de um amor enciumado.
Albertine parecia posse a companheira amada. “Quando eu ficava só, podia pensar nela, mas ela me fazia falta, eu não a possuía”. Até mesmo quando ela se encontrava adormecida na cama, ainda sim vinha aquele sentimento de uma possível traição. O pensamento de Marcel nessas horas trabalhava de forma fantasiosa tentando descobrir em que momento do dia a possível traição poderia ter acontecido. E até nos bolsos da roupa da amada vinha-lhe uma tentativa fortuita de verificar ali a existência de um possível recado.
Albertine não podia estar sozinha longe dos olhos de seu amado ou de alguém, combinado com ele, para vigiá-la. E é essa relação que norteia todo o romance: “sem dúvida meu amor por Albertine não era o mais desprovido, visto não ser inteiramente platônico; ela me proporcionava satisfações carnais e depois era inteligente”.
E o único memento possível que ela era possuída por aquele que a amava era no momento do sono: “passei serões encantadores conversando, brincando com Albertine, mas nunca tão agradáveis como quando a via dormir”.
Ao perceber que a simples relação amorosa não seria suficiente para garantir a posse de sua amada, Marcel então faz dela uma prisioneira. Leva-a para sua casa e a impede, com todos os meios possíveis, de Ter uma vida fora de sua vista. Mas ainda assim, Albertina é muitas: “Eu, que conhecia varias Albertine numa só, parecia-me ver muitas outras mais deitadas ao meu lado (...)”.
“Albertine permanece o mistério que desperta o amor e causa sofrimento. Seu encarceramento é uma desesperada tentativa de “contenção”. Ali, sob seu teto, se mostrará à verdadeira Albertine. Sua essência surgirá livre dos véus de um conhecimento imperfeito. Afinal ela será sua e cada hábito, cada insignificante detalhe será conhecido... E controlado. É por essa violência proustiana que Marcel pretende assegurar seu amor e sua tranqüilidade. Sua segurança estará garantida com a produção artificial da estabilidade do ser amado”.
Poderíamos, a partir desse amor, relacionar o que realmente é amor e o que é desejo de posse do ser amado. De tanto amor chega a “possuir” o que se deve amar? Ou, de tanto amor enciúma-se descontroladamente vigiando, fiscalizando cada passo do ser amado?

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