sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Pedalando num fim de tarde de domingo até a Cachoeira da Rocha Negra Santarém – Pará.

Por muitas vezes esperei a melhor oportunidade para conhecer e me conhecer em meio ao silencio da natureza. Ficava em casa no domingo a tarde imaginando como teria sido se eu tivesse ido pedalar naquele dia para determinada comunidade, lugarejo, praia ou igarapé. De tanto só imaginar percebi que a vida passava bem em frente aos meus olhos e quase nada de bom eu estava sabendo aproveitar. Vivenciar! Quantos mergulhos e pedais eu estava deixando de lado. Eu no coração da Amazônia com tantos atrativos naturais enfurnado em casa em pleno domingo.    
Um desses pontos turísticos em que o santareno pode dizer: “vou logo ali dá um mergulho”, é a Cachoeira da Rocha Negra. Um lugar de pura beleza bem no meio da cidade.
Somando a vontade de pedalar, fotografar e me refrescar em águas geladas, resolvi no último domingo (08/09) me proporcionar um verdadeiro passeio turístico de bicicleta até este lugar, ainda desconhecido da grande maioria da população. 
Saí de casa por volta das 15:20 e cerca de 40 minutos depois já estava apreciando a beleza da queda d’água que forma o que chamamos de cachoeira (na verdade trata-se apenas de uma queda d’água, uma linda queda d’água).
Para quem não sabe o caminho basta seguir na Rodovia Santarém – Cuiabá e entrar a direita, bem em frente à subestação da Celpa. Depois basta seguir a trilha que exige dos aventureiros um pouco de disposição quanto ao preparo físico. Nada que a força de vontade não seja capaz de superar.
Vale muito a pena visitar o local. Pois, a natureza do ambiente nos faz refletir sobre o sentido da vida e com certeza revigora nossas energias para encararmos a indesejável segunda-feira.
Para quem ainda não visitou ficam as fotos:














quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Quando os opostos se atraem


A única lembrança materna que vagamente lhe vinha à mente era do momento em que sua “mãe-madrasta” dividia o pouco carinho que tinha com seus clientes maltrapilhos. Logo órfã de mãe, óbito ocasionado por grave doença do exercício da profissão, ficou a mercê do altruísmo católico dos orfanatos onde, pelo amanhecer, ouvia a voz trêmula da sexagenária Freira proferir do púlpito um sermão que julgava todas as ações más do homem provenientes da ação do demônio. Mas diferente da sorte da mãe, o destino lhe foi favorável. Não sentiu empatia pelo trabalho generoso das Freiras para com os pequeninos. De lá aproveitou somente o estudo. E esse estudo viria a tornar menos duro o seu pão de cada dia. Saiu do convento direto para a Faculdade. Conheceu os clássicos de Homero, as dicotomias saussurianas, as tantas gramáticas que se estuda na academia, chegando até os estudos literários mais contemporâneos. Fundiu perfeitamente a Linguistica com a Literatura. Assim não deu outra: tornou-se Doutora das palavras. Eximia oradora! Mas até então, festejou sozinha todas as conquistas. Faltava-lhe um companheiro. Alguém para andar de mãos dadas ao entardecer. Alguém em que ela pudesse aterrissar seu coração.

Lá no passado, passou-me despercebido o fato de que nossa personagem travava uma briga constante com a beleza. De todas as meninas dos orfanatos por onde passou sempre ficava no grupo das meninas mais feias: cabelo fuá, meio raquítica, olhos esbugalhados, pele encardida. Sempre quando se penteava diante do espelho profetizava a própria sorte no amor: “acho que morrerei solteira, ou permanecerei para sempre aqui neste lugar como a Irmã Raimunda que de tão feia, homem nenhum consegui namorá-la. Ou mesmo saindo daqui, ainda sim, ficarei solteirona, pois qual o homem em sua plena sã consciência teria coragem para casar-se comigo?” (ela era realmente feia!)

Depois de formada a feiúra lhe atenuou um pouco. Agora titulada conseguia arrancar leves suspiros de alguns homens, assim como ela, exclusos de certa beleza. Mas como se diz por ai que os nossos bens materiais nos fazem ser vistos pelos outros, o anel de doutora cintilando em seu dedo despertou num átimo um amor repentino. Quem seria esse homem que possivelmente estaria ruim das faculdades mentais? Ela logo soube.

Era um professor da mesma escola onde trabalhava. Era recém contratado. O amor dos dois cresceu numa proporção que nem a matemática seria capaz de calcular. Foi um meteoro de paixão. Ela ficou enfeitiçada por aquele homem, burro, mas bonito. Era o par perfeito na imaginação dela: “eu com o conhecimento; ele com a beleza”. Mas na mente dele o pensamento foi outro: “nossa! Se não fosse doutora a minha coragem não seria tamanha. Há! criatura horrorosa”. Ela não quis saber de estender o romance pré-inicial. Pediu logo a mão dele em casamento. Ele aceitou prontamente. Casaram-se...

Hoje faz 15 anos que estão casados. Soube disso visitando a escola onde trabalham, ontem. E fiquei perplexo por uma coisa. Alias uma coisa grande. Ela contou-me que depois do casamento as coisas mudaram e muito. Ele mostrou-se mal educado sem os mínimos modos na mesa. Não a beijava mais com a mesma intensidade do inicio. Sentia vergonha dela em alguns momentos na rua. Tornou-se até preguiçoso indo trabalhar somente quando queria.

No dia seguinte tive de retornar a escola e desta vez a conversa foi com o marido dela. Contou-me que até certo ponto arrependeu-se de casar-se com “aquela mulher”. Isso mesmo AQUELA MULHER! Falou-me das piadinhas dos colegas de trabalho referentes à “beleza” de sua esposa. Falou-me que ela tornou-se muito grudenta etc.

No fim, percebi o seguinte: eis aí um casal perfeito do ponto de vista do capitalismo: ele apaixonou-se pelo Doutorado da esposa. E ela somente pela beleza exterior dele. Completaram-se: a feiúra encontrou a beleza; e a burrice encontrou a sabedoria.