segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

As transformações em frases complexas segundo Koch.

Segundo Koch, em seu livro Linguistica Aplicada ao Português: Sintaxe. (1983), as transformações das orações complexas se dá por meio do processo de encaixamento.  
As Transformações de Encaixamento
Primeiramente, há subordinação quando é possível encaixar uma oração dentro da outra – a matriz ou principal – sendo que a função sintática da oração encaixada será a mesma do constituinte no qual se operou a inserção. As frases encaixadas ou subordinadas podem ser de três tipos diferentes, dependendo do local de encaixamento, a saber: as completivas, encaixadas no lugar de um SN; as circunstanciais, encaixadas na posição de um SPA; e as relativas, encaixadas na posição de modificadores adjetivais do nome.
As Completivas
Como já mencionado anteriormente, as transformações das orações complexas se dá por meio de encaixamento de uma oração por um termo da oração primeira. Que termo então a ser substituído? Trata-se de formas vazias conhecidas como pró-forma. O que é uma pró-forma? Trata-se de uma forma vazia de significado, que serve para marcar a posição estrutural, o lugar onde a segunda oração deve ser inserida. Assim as completivas preenchem este espaço vazio de significado completando o sentido da oração principal exercendo as funções de sujeito (SUJ), objeto direto (OD) ou indireto (OI), complemento nominal (CN), predicativo (PRED) ou aposto (AP).
Ex: Pedro sabe {algo/alguma coisa} Sabemos que o verbo saber necessita de um complemento (quem sabe, sabe algo ou alguma coisa). Assim, a pró-forma genérica poderá ser substituída tanto por um só item lexical (matemática), como por um sintagma (escrever poesias), ou por outra oração (o professor é justo).
As Orações Completivas podem proceder ao encaixamento por intermédio de dois complementizadores: QUE, -R
O Complementizador QUE. Quando se introduz uma completiva por meio do complementizador QUE, a transformação de encaixamento obedece às seguintes etapas: a) encaixamento de O2 no lugar da pró-forma ALGO; b) acréscimo do complementizador.
Ex: Eduardo sabe que Cristina viajou.
Na O1 temos Eduardo sabe {algo} A pró-forma algo indica-nos a necessidade de uma complementação do verbo. Eduardo sabe o que? Resposta: Cristina viajar. Efetuando o encaixamento temos: Cristina viajar substituindo a pró-forma algo e o acréscimo do complementizador que no segundo sintagma nominal da O1. Finalizando com Eduardo sabe (O1) que (complementizador) Cristina viajou (O2).

O Complementizador –R. O encaixamento de uma completiva também pode ser efetuado por intermédio de um complementizador –R, obtendo-se assim uma oração reduzida de infinitivo.
Ex: Maria espera ALGO. Maria vencer as dificuldades. Forma encaixada: Maria espera vencer as dificuldades.
Ocorre, portanto: a) encaixamento de O2 no lugar da pró-forma ALGO da O1; b) acréscimo do complementizador –R (desinência modo-temporal de infinitivo, indicando que o verbo assumirá obrigatoriamente a forma infinitiva); c) apagamento do SN idêntico da completiva.

As Circunstancias
As circunstancias, também, chamadas de adverbiais pela gramática tradicional, são orações que se encaixam na posição de um SPA modificador da matriz, que à semelhança das completivas, será representado por pró-formas como: em dado momento, por uma razão, etc. Também como as orações completivas, estas poderão ser substituídas tanto por um item lexical (ex: agora), como por um sintagma (ex: na primavera) ou por uma outra oração (ex: A primavera chega).
A regra completa do SPA é:
SPA         prep + SN
                          Adv
                                O2
   
 O “modus operandi” da transformação de encaixamento, chamada de T. de circunstancialização, pode ser descrito a partir das frases:
i)                    O público deixou o recinto em certo momento. (SPA)
ii)                  O espetáculo terminar.
Teremos o encaixe da O2 no lugar do termo em certo momento da O1. A noção de tempo expressa na segunda oração poderá ser concomitante, anterior ou posterior ao fato enunciado da primeira oração, cabendo, pois, ao circunstancializador assinalar o tipo de relação temporal.
Além da circunstância de tempo, a oração circunstancial pode ainda exprimir uma serie de outras relações como: causa, conseqüência, condição, comparação, proporcionalidade, conformidade, finalidade, concessão. Tudo isso pode ser expresso no esquema:                                     O
 SN                                  SV                            SPA
Os aviões                     saíram do                  em dado momento
líbios                             Brasil                      por uma razão
                                                                                                  de certa maneira, etc



As Relativas

As orações restritivas, denominadas adjetivais na gramática tradicional, podem ser de dois tipos: as restritivas, que funcionam como sintagmas adjetivais e apresentam-se encaixadas na posição de modificador do nome, conforme a regra AS      O2, e as apositivas, que funcionam como aposto e se originam de frases coordenadas na estrutura profunda.

Relativas Restritivas. Tais orações são encaixadas na posição de um SA, representado por uma pró-forma, denominada ESPECIFICADO – que pode ser substituída tanto por um só item lexical (ex: esforçado), como por um sintagma (ex: de Julio) ou por uma oração (ex: o rapaz estuda letras).  
A regra de reescritura do SA será:
SA         ( intens )   (SPA)  Adj  (SPC)          Ex: eu comi o peixe X.
                                       O2                        O peixe estava estragado.
                                                   Eu comi o peixe [que estava estragado]

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Reflexões natalinas: “O Verdadeiro Natal”



Chega dezembro e vemos o desespero tanto dos lojistas (que vendem) e dos consumidores (que enlouquecem no frenesi das compras). Mas qual o significado do Natal? Natal é antes de tudo uma festa religiosa em que (nós religiosos) comemoramos, simbolicamente, o nascimento do menino Jesus. Logo podemos pensar que apenas aqueles que crêem no Cristo deveriam festejar (não festejamos o aniversário de quem não conhecemos). Mas o comércio tira essa imagem religiosa e faz do natal um momento de aumentar os lucros e para isso apela de tal forma, que muitas pessoas se vêm quase que coagidas a comprar um presente. Nada contra presentear. Mas quando colocamos o presente acima de tudo, esquecemos do aniversariante.


Natal é a festa pelo nascimento do Cristo. É acreditar que Jesus é o grande senhor e crendo nele podemos ter dias melhores na terra. É acreditar que no dia 25/12 uma criança nasce em nossa casa e que sua estadia dependerá unicamente de nossa vontade. Deus só faz morada em nosso meio quando a Ele damos o nosso sim.

Tentando ao máximo me afastar dos lugares-comuns, deixo como mensagem que diante da ceia farta paremos para analisar o que de fato estamos comemorando: o verdadeiro natal ou as promoções de final de ano.  

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Análise do poema A um Poeta de Olavo Bilac

No soneto A um Poeta, temos aí a metalinguagem quando o poeta utiliza-se de um poema para falar sobre o poema, ou seja, este soneto é um poema sobre o poema. Já no primeiro quarteto o poeta fala do exímio oficio de tecer o poema. O local ideal onde as ideias fluem, embora com dor e teimosia. Este é lugar é comparado ao claustro beneditino: “longe do estéril turbilhão da rua/ beneditino, escreve! No aconchego/ do claustro, na paciência e no sossego, trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua”!
No segundo quarteto apresentam-se os cuidados que se precisa ter para a criação do poema, onde o poeta admite uma forma para o poema onde não transpareça o trabalho exigido pela criação:mas que na forma se disfarce o emprego/ do esforço; e a trama viva se construa/ de tal modo, que a imagem fique nua,/ rica, mas sóbria, como um templo grego”.
O poeta chega ao primeiro terceto dando mostras do resultado do trabalho feito, destacando principalmente a beleza o que se identifica com os princípios clássicos: riqueza e sobriedade: não se mostre na fábrica o suplício/ do mestre. E natural, o objeto agrade,/ sem lembrar os andaimes do edifício:”
O fechamento do soneto é complemento do primeiro terceto. O poeta compara a arte como uma beleza pura, onde não deve haver artificialidade, pois é na simplicidade que ela se torna bela: Porque a Beleza, gêmea da verdade,/ arte pura, inimiga do artifício/ é a força e a graça na simplicidade”.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Análise do poema Antítese de Castro Alves

Símbolo da nossa literatura abolicionista, Castro Alves em seu poema Antítese, justifica o emprego do titulo pela descrição oposta, contraria entre homem branco (livre) e o negro (escravo). O poema inicia seu leito apresentando a florida vida nos bailes suntuosos. A descrição que temos é de um ambiente luxuoso e feliz: “cintila a festa nas salas! Das serpentinas de prata jorram luzes em cascata/ sobre sedas e rubis/ soa a orquestra...” A alegria é tamanha que os pares dançando parecem Silfos numa valsa mágica: “como silfos/ na valsa os pares perpassam/ sobre as flores, que se enlaçam nos tapetes de coxins”.
A partir da segunda estrofe o ambiente de Antítese ganha forma. Saindo do luxuoso espaço de festa a névoa da noite, no átrio, na vasta rua” ambienta o espaço daquele que “como um sudário flutua/ nos ombros da solidão”. Trata-se daquele que recebeu como prêmio, já no limiar das forças, o desprezo e uma carta de alforria: o escravo! O espaço por este habitado não é dos salões de festas, mas a praça como única morada: “a praça em meio se agita”. “Espécie de cão sem dono” torna-se um sujeito em que a sua condição humana torna-se degredada: “desprezado na agonia/ larva da noite sombria/ mescla de trevas e horror”.
E se a curiosidade do leitor o instiga a querer saber quem é a larva da noite sombria, na estrofe seguinte o autor descreve o ser e sua situação social: “é ele o escravo maldito/ o velho desamparado/ bem como o cedro lascado/ bem como o cedro no chão. Tem por leito de agonias/ as lájeas do pavimento/ e como único lamento/ passa rugindo o tufão”.
E na última estrofe, o poeta grita a favor do escravo: “chorai, orvalhos da noite/soluçai ventos errantes/ sede os círios do infeliz!”. E denuncia a morte-social, a morte-econômica do “cadáver insepulto”, que a própria alforria e o desprezo, a liberdade não assistida já predizia.

Análise do poema Lembrança de Morrer de Álvares de Azevedo


De autoria de um jovem poeta, a quem a morte não permitiu usufruir dos prazeres juvenis, Lembrança de Morrer traduz o extremo subjetivismo, à Byron, muito bem expresso numa temática emotiva de amor e morte. Aliás, é justamente dentro dessa temática que o poema representa a segunda fase do nosso Romantismo conhecida como Ultra-romantismo.  Desde a primeira estrofe o sentimento de melancolia vem à tona: “quando em meu peito... não derramem por mim nenhuma lágrima”. Ainda nessa estrofe percebemos a presença da linguagem de um poeta muito jovem, num inventário lexical onde o ser “foge à rotina, envisgando nos aspectos mórbidos e depressivos da existência: “pálpebra demente”” (Alfredo Bosi).  
O poema segue na cadencia angustiada do poeta. Cada estrofe exemplifica o tédio existencial do eu-lírico. Existência angustiante que somente a morte simbólica pode ser a saída: eu deixo a vida como deixa o tédio...”. e que, se a morte concretizada, apenas algumas lembranças o eu-lírico sentirá saudade, mas de todas, derramará uma lágrima nostálgica apenas “pela virgem que sonhei” expressando o amor carnal em oposição ao convencional.
É pela virgem que o eu-lírico destinou seus dias em vida: “se viveu, foi por ti! E de esperança/de na vida gozar de teus amores”. Mas esse desejo não se concretizou e por isso a morte é buscada como meio de libertação dos sofrimentos tanto que o eu-lirico descreve o seu próprio epitáfio: “descansem o meu leito solitário/ na floresta dos homens esquecida, a sombra de uma cruz, e escrevam nela: foi poeta – sonhou – e amou na vida”.
Se na estrofe acima temos o epitáfio do próprio ser que sofre e por isso deseja a si a morte, na última estrofe temos o desfecho do poema com a descrição de seu próprio túmulo numa linguagem em que a morte figura uma possibilidade de encanto: “mas quando preludia ave d’ aurora/ e quando a meia-noite o céu repousa/ arvoredos do bosque, abri os ramos.../ deixai a lua pratear-me a lousa!”  

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Análise do Poema Marabá de Gonçalves Dias

No poema Marabá de Gonçalves Dias, é possível perceber a presença marcante do Romantismo. Essa presença é logo apresentada no tema geral do poema: "amor-melancolia; amor-desespero; amor-desilusão". É em torno do embate entre Marabá e os guerreiros que se dá esse amor desiludido.
Outra caracteristica se apresenta na construção das personagem Marabá (índia mestiça) em oposição a índia verdadeiramente brasileira. Ora, é sabedor que o índio constitui elemento singular em nossa literatura romântica. Seus traços brasileiros ganharam tanta conotação que embora Marabá seja, apesar de mestiça, bonita, ainda sim é rejeitada pois não se enquadra na descrição do indigena transplantado para a nossa literatura.
outros elementos também merecem um olhar diferenciado: linguagem poética carregada de metáforas que exaltam o elemento paisagístico (brisa, beija-flor), paralelismo, jogo de palavras, presença de duas vozes (Marabá e o guerreiro) intercalando as ações: ora Marabá ressalta a sua própria beleza, ora é o guerreiro que ressalta a beleza indigena por ele preferida. E nesse vai e vem de exposição do belo, Marabá se dá conta que a sua beleza é desprestigiada naquele meio social. Um exemplo de lirismo em que a figura do elemento indigena adquire a conotação de elemento principal do nosso período romântico.