quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Algum remédio anti-monotonia...

Viver! Dádiva dada ao homem. Vida que pela longa existência do ser (falo daquele que a brancura dos cabelos já chegou sem pedir licença) às vezes cai no abismo da mesmice: aquela queda em que nada de novo acontece, a não ser a constatação que a cada dia mais profundo o abismo se torna. Talvez pensando nisso é que dizemos com tanta ênfase: é preciso saber viver! Aproveitar o Carpe diem que essa própria vida nos oferece. Deixar um pouco a cidade e refletir a existência de existir. Coisas de quem sabe viver a vida. Por isso, que estou ai na foto vislumbrado a beleza do meu Tapajós. E acima de tudo, procurando algum remédio anti monotonia...


Análise do poema: Chão de Estrelas (Oreste Barbosa)


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No poema musicado Chão de Estrelas, o eu – lírico vivencia dois momentos: o primeiro, em que sua vida se torna um palco iluminado, dourado, graças ao convívio com sua amada. E o segundo momento diz respeito a todo o sofrimento de amar devido a partida de sua companheira. O desenrolar do poema gira em torno desses dois momentos cruciais. Os recursos literários utilizados pelo autor justificam essa ideia. Os verbos expressando ações passadas e dando a entender que essa ação ainda continua a acontecer, (minha vida era... eu vivia... andei cantando... tinha o alegre...) em oposição à ação presente: e hoje... Comprovam esses dois momentos da vida do eu - lírico.
De forma geral, as características que encontramos nesse poema nos remetem ao Romantismo. De inicio, temos um Eu - lírico em que os sentimentos são subjetivos, fazendo-se uso da função emotiva para firmar a lírica romântica. Muito comum ao nosso romantismo, temos o escapismo aí presente. Aliás, como uma forma de fuga da realidade, tem-se uma recorrência à natureza. Essa bem diferente da natureza árcade significa e revela. O sol revela a realidade ao poeta (e, hoje, quando do sol, a claridade...). Já a noite inspira-lhe ao sonho e a imaginação: mas a lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão... E o que dizer da mulher responsável por essa nostalgia embriagante eu – lírico em questão? Ela pode até não ter os cabelos tão negros como as asas da graúna, mas de certo se fez pomba num vôo em que somente a tristeza ficou: sinto saudade/ da mulher pomba-rola que voou. A presença de elementos da natureza nos faz crer que a vida pode ser tão feliz como o cantar dos pássaros: nosso barracão..., tinha um alegre cantar de um viveiro. Como já disse, a amada em questão pode até não ter os lábios de mel, ou os cabelos negros da cor da asa da graúna e nem a formosura de Isaura, mas tem a mesma sublimação das personagens citadas: tu pisavas nos astros distraídas... E esse devaneio do eu – lírico, em que ela caminha magistralmente sobre o reflexo das estrelas no chão da casa, é fruto das “forças inconscientes da alma: o sonho e a imaginação” que só a noite pode propiciar.



Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações

Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou

Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros, distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão