quarta-feira, 13 de julho de 2011

Nostalgiando


Às vezes me pego embebido numa nostalgia sem fim,
Parece que a vivência de outrora não me deixa construir o futuro.
Lembranças de quando criança corria pelo cás da Vera-Paz,
De quando adolescente imaginava um futuro distante,
De quando jovem vivenciava os sonhos do futuro agora presente...
Sonhos que não voltam mais.
Até mesmo daquela casa. Santa casa!
Do amanhecer mais cedo,
Do trágico fim de um sonho que também se desfez cedo.
Mas de toda uma vida, do que mais sinto saudades?
Das coisas boas com certeza...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Boiúna



Diz-se que a floresta é o mundo do encantamento: onde as entidades ganham forma e seduzem o caboclo. Sedução, aliás, longe da imaginação de uma musa exuberante; sedução mítica e muitas vezes assombrosa.
O “caboco”, de quem agora passo a narrar tais acontecimentos, não era crente dessas aparições de jurupari, cobra-norato, curupira, boto... Mas também não era descrente. Sabia respeitar a crendice (era como ele simplesmente chamava tais manifestações) de seus vizinhos, moradores do Tapajós. Porém, o protagonista de nossa narrativa verídica, após mítica experiência em meio à floresta noturna viu-se forçado a redefinir suas certezas.
O dia, que pela assombrosidade do encontro apagou-se de sua memória, não me foi relatado. Isso, porém, não foi empecilho para que a história sofresse perdas e a mim fosse contada de maneira quebrada. Quando das primeiras indagações que fiz, o homem gaguejou nas respostas. Parecia ainda estar possuído por um espírito. No entanto, enganei-me: era apenas medo que ele sentia. Tendo puxado três ou quatro vezes uma respiração profunda, ele disparou a falar:
_ “Rapaz era umas meia noite. Eu já tinha vasculhado toda aquela mata e nada de caça. Foi quando então eu decidi voltar pra casa. E se eu te contar que durante o caminho de volta eu ouvi um choro parecido com de criança? Mãe do céu! Fiquei todo arrepiado, a modo que alguém me seguisse. Logo mais na frente, depois da castanheira do Raimundo André, eu vi uma criança no chão. Devia ter alguns anos. Confesso que não era das mais bonitas... Levei-a pra casa a modo cuidar dela. Semanas depois, o povo começou a dizer que era filha de boto ou da mãe da mata. Eu não dava ouvido pro que eles diziam. Tratei da pequena.
Porém, quando ela completou seus sete anos percebi mudanças em seu comportamento. O olhar passou a ter uma tonalidade morta. Os beiços ficaram roxeados. As mãos pareciam não corresponder com a idade. Isso fez com que cada vez mais o povo passasse a ter certeza de sua origem.
Distante de tais crendices resolvi levar minha filha pro médico, do outro lado da mata. O caminho seguia uma longínqua trilha paralela ao igarapé da Toca da Raposa. Já tendo percorrido mais da metade do trajeto ouvi uma voz estranha. Como se uma mãe procurasse pela filha perdida. Isso me arrepiou todo, mas não a minha filha. Depois das três bocas vi uma bela mulher em pé ao lado do maracujazeiro de macaco. Ela chamava pela minha filha. Isso mesmo!!! Logo imaginei ter encontrada a mãe da pequena.
Chamou-a três vezes por um nome que não pude muito bem compreender. A pequena, meio que hipnotizada, segui em direção a mulher estranha. Esta a pegou pelos braços dando-lhe um abraço caloroso. Nesse instante percebi que a fisionomia de ambas mudava de maneira sorrateira. Os olhos ficaram vermelhados, a pele como de cobra, no lugar dos cabelos pareceram cobras horríveis. Uma escuridão repentina desclareou o lugar. A mulher desferiu um grito agudo e ambas mergulharam no garapé”.
Foi o causo que me aconteceu...