sexta-feira, 23 de abril de 2010

DE TANTO TE AMAR PARTE II


Um sonho ansioso o homem vivia todas as noites. Sonho encantado: vinha a mais bela de todas caminhando em meio a flores rumo aos braços... Meus braços... de prontidão para acolher teu corpo singular. Mas pela manhã o sonho deixava de ser devaneio. A realidade, dura realidade, acontecia mais uma vez. Exatos três anos. Três anos apenas de um desejo fortuito e de prazeres roubados a luz do dia.


Mas coube aos amantes a inteligência necessária e a paciência divina para esperar o amor acontecer, ou melhor, concretizar-se. Aí vieram as primeiras poesias: versos desconexos que pela magia do amor tornavam-se os mais belos do mundo. Vieram também as primeiras narrativas amorosas: ele e ela personagens principais, secundários, protagonistas e vilões de si mesmo; eu e você meu amor, fazendo literatura do nosso amor incontestável.


Juntos, vieram também às primeiras brigas sem sentido, os desentendimentos que nem se sabe por quê... Há! bem dizia você que na união de dois, esses dois, até certo ponto, deixam de existir para existir um só. Nada fácil... cada um tem seus gostos e manias... No entanto, quando é amor, tudo é superado.


E com esse amor, Eu que jugo saber dar luz a pequenos versos, passei a ter inspiração mais frequente: se o espírito literário me foge, penso apenas no teu rosto e as composições se desabrocham num movimento magistral. Eu realmente te amo. E sabe como:

Amo-te assim, num amor sem igual. Dosado na única medida possível de te amar, Angélica: Te Amar sem medidas.


terça-feira, 20 de abril de 2010

AULA DE PORTUGUÊS: "O Estudo do Adjetivo".

Como combinado, a aula naquele dia seria sobre o estudo do adjetivo. A professora, dona Marisó, sexagenária, gorda de respiração ofegante, cabelos mal cuidados, dentes amarelados, usando óculos quase maiores que a sua face e roupas engraçadas pôs-se lentamente a entrar na sala. Entrando, sentou-se na mesma proporção. Em seguida conferiu os presentes e chamou-os a atenção em relação ao barulho. Pegou o giz com certa dificuldade. Ergueu-o até certa altura do quadro chegando a ficar a um passo de precisar firmar-se na ponta dos pés. O quadro era antigo. Possuía muitas deformidades devido às inúmeras goteiras do telhado. Terminado o exercício de apoiar o giz no quadro, a professora rabiscou:
                             Assunto de hoje: o que é o adijetivo?
Em seguida iniciou a explicação:
_Prestem atenção e olhem aqui pro quadro. Damos o nome de adijetivo para o nome que dá uma qualidade para o substantivo. Vejam a frase: Pedro é preguiçozo. Qual é a qualidade de Pedro:
_Preguiçoso. Responde a turma.
Porém, Joãozinho encafifado com a explicação lacônica da professora, quis melhor entender o adjetivo:
_Professora, então preguiçoso é uma qualidade?
_Não faça perguntas compricadas meninu. Quem é o professor aqui eu ou você?
O menino quis mais uma vez intervir a professora. O sinal da campainha, no entanto, tocou nesse exato momento. Todos os alunos correram em disparada para a porta de saída.
Joãozinho foi direto para casa. Entrou no quarto e jogou num canto qualquer sua sacola com os cadernos. Foi caminhando para a cozinha merendar as sobras do almoço. Na cozinha estavam seu pai Vardemar e seu padrinho Maraca. Este perguntou ao afilhado o que queria ser quando crescer. O pequeno respondeu com o conhecimento obtido em sala de aula naquela manhã:
_Eu quero ser um grande homem cheio de qualidades.Eu quero ser muito preguiçoso!
_Mas que heresia é essa, muleque! Priguiça não é qualidade de homi da colônia e nem de homi nenhum. Esbravejou o pai. “Quem ta te ensinando essas burrici...”
_Foi na escola pai.
_É cumpade Maraca o insino de antigamente que era bom. Que menino aprendia era na parmatória contente da vida...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

AOS NOSSOS HERÓIS...


Confesso que quando li pela primeira vez a epopéia grega do destemido personagem Ulisses, pensei ter concebido a noção de Herói: aquele guerreiro que ignora o perigo, o homem que se doa a uma causa nobre e por isso é notável por seus feitos e sua valentia. Pensei serem essas as características do homem heróico. E na verdade o são. Ou melhor, eram.

Como mudam-se os tempos e com eles, também, os paradigmas e as vontades, mudaram-se assim os “tipos” divinizados, hoje, tidos como heróis. Se no tempo do nosso Odisseu (homem que durante dez anos ficou a mercê da vontade dos deuses enquanto tentava retornar para Ítaca) o que se levava em conta, para atribuir a um homem um fato heróico, era a valentia deste perante uma situação de perigo. Hoje, Ulisses deixaram de existir e deram vida a grandes atores que encarnam a valentia das epopéias gregas, as sacrificantes participações nos BBB´s da vida, os grandes mitos do futebol...

O Olimpo era o grande cenário teatral de onde os deuses faziam de fantoches os homens que habitavam a terra mortal. E o heroísmo quase sempre nascia de uma ação humana que desobedecia a uma vontade divina. O nosso Olimpo de hoje é a nossa querida televisão: cria valorosos heróis e nós os saudamos como exemplo a seguir. Qual o jogador amador sensato que não queria ter a majestosa habilidade do Rei do Futebol? Ou a dona de casa que não gostaria de ser uma Helena de Manoel Carlos? Ou a jovenzinha que não gostaria de estar ao lado do grande cantor do momento? A nossa televisão é o nosso grande espelho e mágico: espelho, espelho meu, existe um herói mais valoroso do que o meu? (do que o meu pai... minha mãe...). E ela responde: os Globais... E é até verdade, pois eles cantam, dançam, sapateiam, imitam bichos e até visitam favelas ou a Amazônia.

E na contramão disso tudo os verdadeiros: o pobre que encontra uma maleta cheia de dólares no banheiro da estação do trem e, ainda sim, continua pobre; a mãe faxineira que consegue, faxinando pela vida, por três filhos numa Universidade Federal; e os Bombeiros, homens que pela vida, sacrificam suas próprias vidas. Mas quem irá se espelhar nestes?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O QUE É LITERATURA? Terry Eagleton

Os esforços para se definir literatura têm sido vários. Entre os conceitos, relaciona-se a literatura a idéia de escrita “imaginativa” ou de ficção. Tal idéia não ganha forças, pois o caráter verídico ou não de uma obra depende da concepção que as pessoas lhe atribuíram em determinada época.
Obras geradas em ventres puramente imaginativos, com o passar do tempo, passaram a ser vistas e lidas como descrição histórica. Se isso não é válido como definição, poderia a literatura conceituar-se pelo uso da linguagem de forma peculiar. A literatura exerceria o poder de transformar a linguagem comum, distanciando-se do uso quotidiano da fala. É exatamente nesse aspecto que se apóiam os formalistas russos ao afirmarem que a obra literária não se define pelas expressões e sentimentos do autor, e sim por palavras.
O estudo dos formalistas russos não está voltado somente para a definição de literatura em sim, mas para o que possa ser definido como literaturidade. Para eles, a literariedade ou o literário é que faz com que uma obra seja considerada literatura. E o ser literário define-se pelo uso do “tornar estranho”. No entanto, todos os tipos de escritas, trabalhados com a devida maestria, também podem ser considerados estranhos. Então, o conceito de literatura passou a não mais considerar somente a forma em si, mas a maneira pela qual alguém resolve ler determinada construção escrita, extraindo dessa o sentido de poesia.
Por último, existe ainda o fato de que, a conceituação de literatura parte de juízos de valor. Muitas obras que, outrora, não sentavam à mesa dos cânones literários mundiais, passaram a ter sua cadeira. E já obras que, num passado longínquo, eram aclamadas, consideradas cheias de literariedade, hoje agradam somente pelo seu aspecto antropológico, social ou religioso. Na verdade, os julgamentos de valor, em muito interferem na tomada de decisão do que é ou do que possa vir a ser literatura.
Para saber mais leia: EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Martins Fontes, 1983.

MEU PÉ ESQUERDO

Ontem a aula valeu à pena! Assistimos, refletimos... a um belíssimo filme. E a leitura deste, fez-me re-tornar a uma antiga leitura do meu tempo de “quase frustrado Ir. Religioso”: Franz Kafka e a sua “Metamorfose”. Eis aí o autor. Eis aí a obra. E tanto Meu Pé Esquerdo como o Gregori (personagem central de Metamorfose) tem algo em comum, embora ainda que pouca coisa.
O caixeiro viajante acorda metamorfoseado em um bicho. Já Crishty (ainda não cursei Inglês Instrumental) nasce com uma grave deformidade cerebral. O seu pé esquerdo é como se fosse seus dois braços e a outra perna. É com este pé que ele desenvolve a impressionante arte de escrever e pintar. Ao longo de sua vida ele rompe pré-conceitos: familiares, sociais e afetivos. E no fim torna-se uma pessoa notória: visto pelo que possuiu; e não pelo que foi. Mais uma vez o ter acima do ser.
Voltando um pouco para nossas crendices populares... Muitos acreditam que tudo aquilo que vem do “esquerdo” é obra de inspiração maligna. Falta-lhes assistir “Meu Pé Esquerdo”... E desde que a esse filme li, passei a dar mais valor a todas as partes mínimas do meu corpo. Afinal, isto é bíblico: o que faria o braço sem as pernas? E o mais interessante: na aula seguinte conheci uma definição perfeita para toda a vida desse bravo homem. Eis o termo: resiliência!!!
E a todos os resilientes de nosso país assistam “Meu Pé Esquerdo”...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Resumo do Livro O que é Literatura de Marisa Lajolo

O termo literatura apresenta uma pluralidade de conceitos podendo vir a ser desde uma epopéia grega a uma simples carta de amor. Os esforços para tornar esse conceito singular vêm desde o período da Acrópole grega onde Aristóteles e Platão esboçaram as primeiras definições. Nesse período, o termo literatura significava a arte de compor ou escrever bem; os homens de letras etc. No decorrer da história, somaram-se a raiz do termo novos significados. Sendo, talvez, o mais conhecido o conjunto de obras clássicas de uma época ou de um país. Mas quem classifica esse conjunto de obras? Os mesmos que dão ao texto o teor de literário ou não-literário. A crítica literária é uma das responsáveis em julgar uma obra como sendo boa ou má. Tal seleção, muita das vezes, faz-se a partir de parâmetros conceituais do próprio crítico que leva em conta fatores como: quem é o autor, qual o tema, a editora, o público alvo, o tipo de linguagem usada etc. Também a escola mostra-se como instância seletiva, pois legitima algumas obras em detrimento da condenação de muitas outras: aquelas consideradas de leitura inadequada a formação dos estudantes. É justamente esse autopoder, individual, de classificação o culpado por essa pluralidade conceitual. Tanto que o que antes não se considerava, não possuía prestigio hoje passou a tê-lo. A prosa era considerada de categoria inferior na antiga Grécia. Somente no século XVIII passou a sentar-se a direita das grandes obras com o nascimento do romance. Concebe-se, então, que o conceito de literatura depende em muito do ponto de vista de quem o define e do sentido da palavra para cada um.