terça-feira, 12 de março de 2013

Análise do poema Tabacaria de Fernando Pessoa

Imagem da Internet
  1. Navegar é preciso, viver não é preciso; Viver não é necessário; necessário é criar”./ “Tornar minha vida grande, ainda que o meu corpo tenha de ser lenha desse fogo”.
Como empurrado contra o mar, toda a sua história (de Portugal), literária e não, atesta o sentimento de busca dum caminho que só ele representa e pode representar” (MOISÉS, 2004:13). Prova disso, são os versos pessoanos de que “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Ora, esse verso somado a “Tornar minha vida grande, ainda que o meu corpo tenha de ser lenha desse fogo”, também inserem a arte a partir do ponto de vista do existencialismo. Ainda segundo MOISÉS (2004:178) agora no seu Dicionário de Termos Literários, o Existencialismo enquanto corrente filosófica dirigi-se para a essência do individuo. E enquanto elemento empregado na arte literária centra-se a sua atenção no desvendamento da existência.
Fernando Pessoa expressa claramente essas afirmações nos versos já citados. Ele próprio, enquanto poeta, buscou esse existencialismo (fuga de si) sendo um e ao mesmo tempo muitos ao criar dentro de si outros “eus” (heterônimos).
Em “Navegar é preciso, viver não é preciso; Viver não é necessário; necessário é criar”. Essa arte aqui comentada pode simbolizar a busca de uma existência. Com relação a navegação ela vinha em primeiro plano para Portugal à época. A partir dela a vida se descobria. Navegar por si só já era viver. E se viver era navegar, levar uma vida longe dos desafios da navegação não tinha importância. Importante sim era criar.
Já no segundo verso, “Tornar minha vida grande, ainda que o meu corpo tenha de ser lenha desse fogo” Pessoa expressa o que é muito próprio de sua poesia: a presença do próprio eu em busca de indagações sobre a própria vida. É a arte de criar a partir da corrente existencialista. “(...) Ainda que o meu corpo tenha de ser lenha desse fogo” o poeta é o próprio eu: ao mesmo tempo em que é fogo, também é lenha. O eu poético alimenta-se de si mesmo. Busca por uma indagação paradoxal que em ao mesmo tempo em que é não é. 
 
  1. O tema cidade no poema Tabacaria relacionado à estética pessoana.

Em Tabacaria, poema de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) o tema cidade permeia todo o poema. Isso se deva por ter sido construído por um poeta cuja profissão é de engenheiro. Mas não é somente como engenheiro que Álvaro de Campos descreve o mundo que o circunda, mas como “poeta moderno, século XX, que do desespero extrai a própria razão de ser e não foge a sua condição de homem sujeito a maquina...” (MOISÉS, 2004:244).
Como poeta que é, em Tabacaria deixa de lado o olhar matemático de engenheiro e lança em muitos versos a literariedade em que expressa a condição do homem da época inserido num progresso emergente das cidades. “Janelas do meu quarto” em que o autor observa o vai e vem da cidade. Aliás, a janela até hoje, em muitas localidades, é por onde se observa o movimento dos forasteiros e as atividades vizinhas. “Com o destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada”. “A fileira de carruagens de um comboio e uma partida apitada”. Este último verso simboliza perfeitamente o tema cidade. É um anúncio do crescimento citadino; da efervescência das cidades. É só lembrar que essa mesma aglomeração de carruagens evoluiu para as aglomerações que hoje presenciamos. E que hoje “a partida apitada” acontece até nos portos de nossa Amazônia.

  1. O Existencialismo no poema Tabacaria de Álvaro de Campos
No poema Tabacaria, de Álvaro de Campos temos aí a corrente filosófica a que se chamou de Existencialismo e que a arte utilizou para o desvendamento da existência humana.
Em Tabacaria, conforme destaca SARAIVA e LOPES (2001:1000) “o espírito reflexivo de Pessoa, acaba, em certos momentos, por desvalorizar a sua própria razão humana”. Isso, logo desde o inicio do poema: “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada...”. Importante lembrar que embora Álvaro de Campos não seja o próprio Pessoa, mesmo assim a luta interna pelo desvendamento da condição existencial do ser também lhe é característica. Essa afirmação de ser nada (vazio) e ao mesmo tempo de que nunca será nada e de que também não pode ser nada converge para um paradoxo que só mesmo uma reflexão existencialista poderá dar cabo de uma resposta. A mesma ideia apresentada nos versos: “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?/ Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!”. Esses versos configuram “uma terrível estranheza de existir, um acordar para a misteriosa importância de existir, que preludia o existencialismo de meados do século” (SARAIVA & LOPES 2001: 1000) a poesia pessoana.
Ainda em Tabacaria temos um verso que explora magistralmente o conceito existencialista na poesia de Fernando Pessoa: “Com o destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada”. Nesse verso vemos o dilema conflituoso existencial do eu. Pessoa age assim como o filósofo Sartre em seu livro “O Ser e o Nada”. Mas Fernando Pessoa, como já citei, busca uma resposta a essa existência paradoxal. Pois, ao mesmo tempo em que o tudo é tudo ele se faz em nada. E o destino, personagem responsável por muitas de nossas indagações, é o condutor principal dessa vida existencialista.


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