terça-feira, 21 de junho de 2011

7 indagações sobre o Amadis de Gaula

Ø     Breve resumo sobre o Amadis de Gaula.
A obra Amadis de Gaula pertence a um gênero muito conhecido durante a idade média: as Novelas de Cavalaria ou Romance de Cavalaria. Dividido em vinte capítulos, a obra narra as aventuras heróicas da personagem Amadis de Gaula. O valoroso Amadis é fruto de um amor fortuito entre o Rei D. Periom e a infanta Elisena.
 Como fora concebido fora do casamento, sua mãe, para não ser condenada, vê como salvação da própria vida, abandonar o menino, colocando-o em uma pequena barca e lançando-o no rio. Junto a barca a infanta Elisena deixou uma carta que dizia: “este é Amadis Sem Tempo”. Amadis por homenagem a um santo muito conhecido. E Sem Tempo, pois crerá que logo morreria. Mas como acontece na maioria das histórias dos heróis lendários que conhecemos, Amadis não morreu. Criado pelo cavaleiro Gandales, Amadis cresceu não somente em estatura como também em força e valentia ficando conhecido como o grande Donzel do Mar. Ainda criança, recebe a incumbência de servir a Oriana. Servidão essa que mais tarde roubar-lhe-ia o coração. Já adulto Amadis vai à busca das suas verdadeiras origens, o que o leva a meter-se em fantásticas aventuras, sempre protegido pela feiticeira Urganda e perseguido pelo mago Arcalaus, o encantador.
Amadis é totalmente humano, mas a sua destreza com a espada e a sua coragem são típicas de um herói grego. Faz-nos lembrar do grande Ulisses no retorno dos braços da sua bem amada Penélope. Só que no Amadis de Gaula a coita de amour dá-se graças à impossibilidade da vivencia do amor pleno devido ao código de cavalaria. Mas Amadis é incansável: atravessa o arco encantado dos leais amadores no centro da Ilha Firme, luta contra o terrível monstro Endriago, matando-o. Passa por todo o tipo de perigosas aventuras, pelo amor da sua amada Oriana, filha do Rei D. Lisuarte da Grã-Bretanha.
O desfecho dessa novela é um caso a parte. Podemos citar aqui duas versões distintas: Originalmente a história acabava com a morte de Amadis e o suicídio de Oriana, por presenciar a morte do bem amado. Já na versão de Montalvo, modifica-se todo este final trágico. Para encerrar a obra, usa-se um subterfúgio que a faz terminar bruscamente.
Ø     Amadis de Gaula: quem a escreveu?
No que diz respeito à discussão sobre a autoria da novela Amadis de Gaula, parece-me ainda, uma discussão não encerrada. Tanto portugueses como castelhanos reivindicam para si a nacionalidade dessa obra. Assim, cada um busca fundamentar aquilo que por certo legitimaria tal reivindicação. Então, temos: a) para os defensores da tese de que o original seria em língua portuguesa (nomeadamente o Prof. Manuel Rodrigues Lapa) o seu autor poderia ser o trovador João de Lobeira, uma vez que era ativo na corte de D. Dinis. E a versão de Montalvo seria igualmente uma tradução; b) já para os defensores da tese castelhana (nomeadamente o seu último editor, Cacho Blecua), o seu autor continua anônimo, muito embora entendam que Montalvo refunde um original castelhano, de um autor castelhano.
Contribui para a tese castelhana o fato de não se encontrar nenhum fragmento da novela em língua portuguesa. No entanto, podemos encontrar um poema, presente no Amadis no Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa, provavelmente atribuído a Lobeira. 

Ø     O amor de Amadis de Gaula X o Amor das Cantigas Lírico-amorosas.
O tema central em Amadis de Gaula é o amor vivido por Amadis e Oriana. Desse amor podemos fazer uma analogia com o amor cantado pelos trovadores nas cantigas trovadorescas.
A principal diferença que vamos encontrar em Amadis de Gaula é a caracterização do amor vivido por Amadis e Oriana. Se na cantiga de amor o amor era platônico devido à impossibilidade da realização amorosa, visto que o amor não era correspondido, em Amadis esse amor é compartilhado, embora em segredo.
Também em Amadis encontramos a relação de vassalagem amorosa. No entanto, comparada em relação de vassalagem cantada nas cantigas trovadorescas vamos perceber que em Amadis essa relação é carnal. Mas não é por isso que essa relação se faz menos dolorida. A coita amorosa é característica presente na novela. Facilmente percebida na relação amorosa que não se completa entre Amadis e Oriana, pois o amor que ambos sentem é sabido apenas por seus respectivos confidentes. A submissão que o cavaleiro Amadis vive em relação ao código de cavalaria distancia o casal. Assim, as aventuras das armas têm como função reproduzir in­cessantemente os obstáculos inventados pelo amor cortês para que ele se torne um amor verdadeiramente impossível.        

Ø     O conflito vivenciado por Amadis: o homem de seu tempo X o homem do século XV/XVI.
Amadis traz em si os traços do homem medieval exercidos no cavaleiro-amante. Este herói humaniza-se, ao ponto de casar-se sacramentalmente para validar a antiga relação amorosa com Oriana. Desse momento surgem os conflitos vivenciados por Amadis. O cavaleio manifesta em si não mais as características do homem medieval, mas de um homem em nascimento: complexo segundo os valores renascentistas. Amadis é o protótipo de na nossa mentalidade então vigente no mundo. Ele serviu de elo entre o fim do período medieval e a Renascença. 

Ø     A influência religiosa-cristã na infância de Amadis.
Toda a novela Amadis de Gaula é permeada por elementos da vivencia do religioso cristão. Mas no que tange ao Amadis enquanto criança, temos como elemento comparativo a ação em que sua mãe Elisena o lança a própria sorte ao rio. Essa referência está ligada ao episódio bíblico do Antigo Testamento. Nessa narrativa, Moisés, aquele que libertaria seu povo da mão opressora do faraó e o conduziria a terra prometida, também é abandonado por sua mãe à beira do rio. E ainda em analogia a novela, Moisés fora resgatado e criado por estranhos e assim como o Donzel do Mar tornou-se referência para seu povo.   



Ø     A caracterização do enredo quanto aos aspectos tradicionais das novelas de cavalaria.
Se fizermos analogia do enredo do Amadis de Gaula e as demais novelas de cavalaria, vamos observar que ela mantém em si o estilo de enredo. Esse é predominantemente linear, mas que em alguns momentos faz-se referencia as ações pretéritas. A novela é divida em pequenas histórias contadas por vez. A cada história temos uma pequena introdução convidado o leitor para a trama que ai será narrada. O autor utiliza-se de um recurso em que quebra a narrativa presente para retomar a narrativa pausada, dando assim continuidade a toda a história.

Ø     O perfil do herói Amadis X o herói das novelas de cavalaria.
Amadis enquanto herói é uma figura extraordinária. Ele representa bem a figura do cavaleiro-amante, fiel ao código da cavalaria. Amadis também é um servo fiel a sua senhora. Mas o que mais o caracteriza é a força, valentia, honra e maestria nas batalhas. Aliás, as batalhas foram o grande desafio a vencer a fim de sacramentar o amor tido por Oriana. No entanto, se Amadis transita entre o homem do fim da Idade Média e início da Renascença, poderíamos ai apontar diferença em relação aos demais heróis. Temos em Amadis um herói humanizado, de uma complexidade psicológica. 

terça-feira, 7 de junho de 2011

Noite de Poesias na UFOPA

 Aconteceu no último dia 03 de junho, a primeira noite de declamações de poesias e manifestações artisticas e culturais na UFOPA. Eis aqui o proprietário deste blog declamando "Aprendendo a verdadeira arte de se Amar".

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Breve Resumo do Mecanismo da Flexão Portuguesa

CAMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portuguesa. 42° ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. (pg, 81 a 116) 

“concordo com você em número, gênero e grau...”
  
Um dos principais erros ainda cometidos, e o que é pior cultivado nas escolas, quando se fala da flexão na língua portuguesa diz respeito à classificação do grau. Na expressão acima ocorrem dois erros: o primeiro pelo costume que se tem de se concorda com o outro, muitas vezes sem se saber por que se concorda. E o segundo que fere o processo de concordância na língua portuguesa ao se referir ao grau como um processo de flexão e não de derivação.  O que conhecemos hoje como “flexão” vem da tradução do termo alemão Biegung que quer dizer “flexão”, “curvatura”. Indica que um dado vocábulo “se dobra” a novos empregos. Em nossa língua a flexão apresenta-se por meio de sufixos ou desinências ambos somados ao radical. Nota-se que há casos em que o emprego de sufixos gera novas palavras. Estes são chamados de sufixos derivacionais. Mas mesmo antes de Cristo, há quem se ocupou do estudo da flexão. É o caso do gramático latino Varrão que classificou em dois o processo de alguns vocábulos se dobrarem ao uso de novos empregos.  A saber: derivatio voluntaria, que cria novas palavras. É o caso do processo de derivação na língua portuguesa caracterizado por pertencer ao sistema aberto; não estabelece paradigmas exaustivos; e não haver uma obrigatoriedade de concordância (se houvesse uma obrigatoriedade de uso do sufixo de superlativo, ou grau intenso, na nossa escrita diária para justificar o grau como um processo de flexão e não de derivação estaríamos incorporando a excentricidade de José Dias com seus abusivos “íssimos”). O segundo a que chamou de derivatio naturalis, para indicar modalidades especificas de uma dada palavra. Este é o caso da flexão em nossa língua que segue uma obrigatoriedade de concordância; faz parte do sistema fechado; é exaustiva. Fica bem claro que a expressão de grau não pertence ao processo de flexão em nossa língua (pelos aspectos já citados). Se então o grau não pertence ao processo de flexão, resta-nos a análise do gênero e o número.


Nos nomes temos a flexão de gênero e número. Quando este processo flexional é estudado nas gramáticas escolares, vê-se mais um pecado ao perceber que a explicação dada ao processo de flexão do gênero reduz-se simplesmente a oposição macho X fêmea. Pois como aplicar o mesmo conceito a palavras que não expressão “sexo”? O gênero condiciona uma oposição entre uma forma masculina e outra feminina (são necessariamente identificados por sexo). Essa oposição realiza-se por meio da desinência  -a (átono final) para a marca do feminino. A flexão de número faz a oposição entre singular e plural. Essa flexão é marcada pela adição da desinência  -s  na última silaba do termo em contraste (lobo/lobos). Se o feminino e a forma no plural são identificadas pela presença de suas respectivas marcas. O posto ocorre nas formas masculinas e nas formas no singular. Ambas representadas por ausências de marcas (morfema gramatical zero {Ǿ}. Muitos pronomes também têm essas mesmas flexões. Só que nesses três noções gramaticais lhe são próprias. É o que os distingue dos nomes, a saber: a) somente os pronomes representam a noção de pessoa gramatical. Vale dizer que essa representação não se dá por meio de flexão, mas por meio de vocábulos distintos; b) vários pronomes existem como gênero neutro em função substantiva, referindo-se a coisas inanimadas; c) uma categoria de casos (bem diferente do latim).


Já nos verbos, enquanto um estudo flexional, temos duas noções que se completam para flexionar o vocábulo verbal. 1) o tempo que indica o momento da ação verbal. E a este ligado a pessoa gramatical do sujeito; 2) sufixo flexional   pode indicar o “modo” (indicativo, subjuntivo, imperativo) incluindo ai, também, o tempo da aça; e a desinência de NP (a pessoa do sujeito e seu estado de singular ou plural). Quando ao radical do verbo soma-se a vogal temática temos ai o tema. Nos verbos portugueses temos três conjugações representadas pelos temas terminados em: -a (1° conjugação), -e (2° conjugação), -i (3° conjugação).


Nos nomes temos os temas terminados em  -a, -o /u/ átono final e  -e /i/ átono final. Assim não se confunde a desinência de feminino  -a, que aparece nos temas em    -o (lobo/loba) e a vogal temática em  -a que não é marca de gênero.





O Nome e suas Flexões


Em língua portuguesa os nomes se dividem, do ponto de vista funcional, em substantivos e adjetivos. Quanto a sua flexão, como já citei anteriormente, ainda ocorre grave erro na sua significação semântica apresentada por nossas gramáticas, principalmente nas escolas. Advém, a priori, do fato de associar o gênero ao sexo dos seres. No entanto, como sabemos, há nomes que representam uma expressão no feminino, sem necessariamente ligar-se ao “sexo do ser”.  Assim, teremos termos equivalentes tanto para o masculino como para o feminino. O que vai determinar o gênero é o determinante que acompanha o nome. Em geral se pode afirmar, do ponto de vista semântico, que o masculino é a forma geral, não marcada, enquanto que o feminino indica uma especialização qualquer.


Outra incoerência diz respeito a falta de se fazer uma distinção entre flexão de gênero e certos processos lexicais ou sintáticos de indicar o sexo. É o caso geralmente de homem e mulher, em que o nome mulher é ensinado como sendo a forma feminina de homem. Bem sabemos o que de fato existe é uma aproximação semântica de tais termos em que homem é privativamente masculino e mulher privativamente feminino.


Flexiona-se um nome para o feminino fazendo o acréscimo do sufixo flexional   -a (/a/ átono final) com a supressão da vogal temática, quando existente no singular: autor/autora.


Da descrição do gênero nominal têm-se o seguinte: a) nomes substantivos de gênero único; ex: (a) rosa, (a) flor... b) nomes de dois gêneros sem flexão; ex: (o,a) artista... c) nomes de substantivos com dois gêneros, com uma flexão redundante; ex: (o) lobo, (a) loba; (o) mestre, (a) mestra.


Já a flexão de número dos nomes parece ser um estudo menos árduo que o de gênero. Já citado a maneira pela qual se obtêm o plural em nossa língua passemos a ideia semântica que ele pode expressar. Temos os “coletivos” em que a forma no singular expressa uma ideia de plural. Outros nomes como núpcias expressão a ideia de um encadeamento de fatos devendo o determinante ir sempre para o plural. Outra ideia semântica é que termos como trevas, céus, ares indicam amplitude e não mais de um.





A significação geral das noções gramaticais do verbo


Vimos anteriormente que a estrutura do verbo é composta por dois grandes morfemas flexionais: de tempo/modo; e número/pessoa. Ao primeiro daremos maior ênfase no momento.


Nas formas verbais em língua portuguesa temos: indicativo, subjuntivo (incluindo o imperativo). O modo indicativo apresenta uma certeza ao momento de fala da pessoa verbal. Já o modo subjuntivo enfatiza uma ação incerta. No aspecto sintático subordina-se a uma forma que expressa uma possibilidade de realização da ação verbal.


A noção gramatical de tempo aparece, no seu desdobramento plano no modo indicativo. No uso coloquial temos, distintos, presente e pretérito (passado). No entanto, o pretérito se divide em três formas: imperfeito, perfeito e mais que perfeito. Mas no campo da significação podemos ter duas divisões: a) dentro da noção de tempo: temos um passado anterior a outro; b) dentro da noção de aspecto: temos um passado “inconcluso” não totalmente “passado”. E outro que é concluso; acabado. Desses o pretérito mais que perfeito é pouco utilizado no uso coloquial sendo substituído por dos outros dois. O pretérito imperfeito tem o emprego metafórico, pois indica modalmente a irrealidade.  


O modo do subjuntivo tem os três tempos de presente, pretérito e futuro. Temos inicialmente uma oposição entre o presente e o pretérito, sendo este mais marcado que aquele. O quadro a seguir representa bem o emprego dos tempos no modo subjuntivo:


1)      Orações não condicionais: a) pretérito; b) presente;


2)      Orações condicionais: a) pretérito; b) futuro;


O imperativo não é mais que um subjuntivo sem o elo da subordinação sintática. O infinitivo é a forma mais indefinida do verbo. Tanto que costuma ser chamado como o nome do verbo.





A flexão verbal portuguesa – O padrão geral


O verbo é em português, o vocábulo flexional, por excelência, dada a complexidade de suas flexões. Já dito anteriormente, seus sufixos flexionais ou desinências são de dois modos: sufixo modo-temporal (SMT) e sufixo número-pessoal (SNP). Assim temos:


 T (R + VT) + SF (SMT + SNP)


Há seis sufixos números-pessoais, para indicarem como sujeito o falante: P1, P2, P3, P4, P5, P6.